Questões de Concurso Público MPO 2015 para Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia
Foram encontradas 75 questões
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552149
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Severina passara quinze dias na casa da filha.
Durante esse tempo, a sogra e o genro mantiveram uma relação
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552150
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Nos contos de Clarice Lispector, é comum um fato
banal do cotidiano desencadear um processo de
epifania, isto é, de revelação, de tomada de
consciência da personagem. O fato que desencadeia
um processo epifânico no relacionamento entre mãe e filha é:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552151
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Releia o fragmento a seguir.
A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso."
Há diferentes formas de o narrador inserir os pensamentos das personagens na narrativa. No trecho em análise, a autora usa a seguinte estratégia:
A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha" fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso."
Há diferentes formas de o narrador inserir os pensamentos das personagens na narrativa. No trecho em análise, a autora usa a seguinte estratégia:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552152
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Uma nova pontuação de “ Felizm ente nunca
precisava rir de fato quando tinha vontade de rir: seus
olhos tomavam uma expressão esperta e contida,
tornavam-se mais estrábicos - e o riso saía pelos
olhos." foi feita de forma correta e sem alterar o sentido em:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552153
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Travaglia define tipologia textual como aquilo que
pode instaurar um modo de interação, uma maneira
de interlocução, segundo perspectivas que podem variar.
Nessa perspectiva, sobre as característica s marcantes referentes à tipologia textual a que pertence Os laços de família, leia as afirmativas.
I. No texto, há o predomínio de relações e progressões lógicas de ideias, impessoalidade, objetividade, apresentando o posicionamento do falante de forma explícita, argumentos, e/ou contra-argumentos.
II. A tipologia a qual o texto representa possui predomínio de expressões de sentido imperativo, de formas verbais também no imperativo, no infinitivo ou no futuro do presente, além de formas adverbiais, objetivando informar e recriar a realidade.
III. O texto apresenta sequenciação própria da enunciação de fatos que envolvem personagens movidos por certos propósitos e respectivas ações encadeadas na linha do tempo.
Está (ão) correta(s) somente a(s) afirmativas:
Nessa perspectiva, sobre as característica s marcantes referentes à tipologia textual a que pertence Os laços de família, leia as afirmativas.
I. No texto, há o predomínio de relações e progressões lógicas de ideias, impessoalidade, objetividade, apresentando o posicionamento do falante de forma explícita, argumentos, e/ou contra-argumentos.
II. A tipologia a qual o texto representa possui predomínio de expressões de sentido imperativo, de formas verbais também no imperativo, no infinitivo ou no futuro do presente, além de formas adverbiais, objetivando informar e recriar a realidade.
III. O texto apresenta sequenciação própria da enunciação de fatos que envolvem personagens movidos por certos propósitos e respectivas ações encadeadas na linha do tempo.
Está (ão) correta(s) somente a(s) afirmativas:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552154
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
As palavras destacadas em “Catarina, de pé,
observava com MALÍCIA o marido, cuja segurança se
DESVANECERA " podem ser substituídas ,
respectivamente, sem perda de sentido contextual por:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552155
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
O termo destacado está corretamente analisado em:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552156
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
As línguas são formas altamente organizadas de
elaboração, expressão e comunicação de um elenco
infinito de conteúdos mediante o emprego de
unidades que se articulam entre si.
À luz dessa diversidade de possibilidades, assinale a alternativa correta.
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552157
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Observe as frases:
I. “Mas NADA podia fazer contra"
II. Não esqueci DE NADA?''
Sobre elas pode-se afirmar que, no contexto:
I. “Mas NADA podia fazer contra"
II. Não esqueci DE NADA?''
Sobre elas pode-se afirmar que, no contexto:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552158
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Sobre a oração destacada em “Catarina viu então
QUE SUA MÃE ESTAVA ENVELHECIDA e tinha os
olhos brilhantes.", é correto afirmar que:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552159
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Ao afirmar “Sua mãe lhe doía, era ISSO.", a autora,
por meio da forma pronominal destacada, refere-se:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552160
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Tendo em vista o enunciado “Olhava-se compondo
um ar excessivamente severo onde não faltava
alguma admiração por si mesma.", analise as afirmativas a seguir:
I. Se a frase fosse passada para o plural, a concordância da palavra SI deveria manter-se invariável.
II. A palavra ALGUMA está no feminino, pois concorda com o pronome ELA (elíptico na oração a que pertence.
III. A palavra ONDE, conforme normas de uso dos pronomes, foi usada inadequadamente. A forma correta, no contexto, seria EM QUE ou NO QUAL.
Está (ão) correta (s) somente as afirmativas:
I. Se a frase fosse passada para o plural, a concordância da palavra SI deveria manter-se invariável.
II. A palavra ALGUMA está no feminino, pois concorda com o pronome ELA (elíptico na oração a que pertence.
III. A palavra ONDE, conforme normas de uso dos pronomes, foi usada inadequadamente. A forma correta, no contexto, seria EM QUE ou NO QUAL.
Está (ão) correta (s) somente as afirmativas:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552161
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
Ao se substituir o vocábulo destacado em “A mulher e
a mãe acomodaram-se finalmente no táxi que as
levaria à ESTAÇÃO." pelo seu plural, ESTAÇÕES,
mantendo o restante da frase no singular, o uso do
acento indicativo de crase será:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552162
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
A oração destacada em “Catarina, de pé, observava
com malícia o marido, CUJA SEGURANÇA SE
DESVANECERA para dar lugar a um homem moreno
e miúdo" exerce a mesma função que o sintagma
adjetivo é capaz de exercer, a saber:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552163
Português
Texto associado
Os laços de família
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente
no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e
recontava as duas malas tentando convencer-se de
que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos
escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um
contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
- Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
- Não, não, não esqueceu de nada, respondia
a filha divertida, com paciência.
Ainda estava sob a impressão da cena meio
cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da
despedida. Durante as duas semanas da visita da
velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias
e as boas-tardes soavam a cada momento com uma
delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis
que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi,
a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido
se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal
dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com
alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer
das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser
o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou
louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas.
“Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma
filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio
aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé,
observava com malícia o marido, cuja segurança se
desvanecera para dar lugar a um homem moreno e
miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha
grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se
mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato
quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam
uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais
estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um
pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra:
desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe,
quando uma freada súbita do carro lançou-as uma
contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah!
- exclamou a mãe como a um desastre irremediável,
ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de
repente envelhecida e pobre. E Catarina?
Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha,
e também a Catarina acontecera um desastre? seus
olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa
as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente
possível remediar a catástrofe. Porque de fato
sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa
intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai,
sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe
enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais,
os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a
mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e
depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por
que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão
- Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe
perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas
foram dispostas no trem, depois de trocados os
beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava
envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
O trem não partia e ambas esperavam sem ter
o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e
examinou-se no seu chapéu novo, comprado no
mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um
ar excessivamente severo onde não faltava alguma
admiração por si mesma. A filha observava divertida.
Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a
mulher rindo pelos olhos ; e o peso da
responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e
repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua
mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o
espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice
Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.
No que se refere à sintaxe de regência e de
concordância, é correto afirmar que o verbo destacado em:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552164
Ética na Administração Pública
A ética pode ser definida como:
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552165
Ética na Administração Pública
De acordo com Decreto n° 1.171/1994 (Código de
Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder
Executivo Federal), assinale a alternativa
INCORRETA com relação aos deveres do servidor público.
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552166
Ética na Administração Pública
Com relação à ética no setor público, e de acordo com
os termos do Decreto n° 1.171/1994 (Código de Ética
Profissional do Servidor Público Civil do Poder
Executivo Federal), assinale a alternativa correta.
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552167
Direito Administrativo
Com relação ao regime disciplinar dos servidores
públicos, e de acordo com os term os da
Lei n° 8.112/1990, assinale a alternativa correta.
Ano: 2015
Banca:
FUNCAB
Órgão:
MPO
Prova:
FUNCAB - 2015 - MPOG - Atividade Técnica - Direito, Administração, Ciências Contábeis e Economia |
Q552168
Direito Administrativo
Assinale a alternativa correta de acordo com a
Lei n° 8.429/1992 e os atos de improbidade administrativa.