A música dos brancos é negra
A pele dos brancos é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são retintos
Os brancos têm culpa e castigo
E os negros têm os santos
Os negros na cozinha
Os brancos na sala
A valsa na camarinha
A salsa na senzala
A música dos brancos é negra
A pele dos brancos é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são azuis
Os brancos ficam vermelhos
E os negros não
Os negros ficam brancos de medo
Os negros são só negros
Os brancos são troianos
Os negros não são gregos
Os negros não são brancos
Os olhos dos negros são negros
Os olhos dos brancos podem ser negros
Os olhos, os zíperes, os pêlos
Os brancos, os negros e o desejo
A música dos brancos
A música dos pretos
A música da fala
A dança das ancas
O andar das mulatas
“Ô essa dona caminhando”
A música dos brancos é negra
A pele dos brancos é negra
Os dentes dos negros são brancos
Lanço o meu olhar sobre o Brasil
e não entendo nada
In: CALCANHOTO, Adriana. Senhas. Rio de Janeiro: Columbia Records/Sony Music, 1992. Disponível em:
https://www.letras.mus.br/adriana-calcanhotto/87091/. Acesso em 1 abr. 2023.