Reaprender a estar no mundo
Volta às atividades sociais e ao trabalho precisam incluir
cuidados com a saúde física, autoconhecimento, diálogo e
empatia.
Claudio Lottenberg 9 de dezembro de 2021
No estágio em que nos encontramos da pandemia
de Covid-19 no Brasil, com uma parcela expressiva – mais
de 60% – de sua população completamente imunizada, já é
possível, ainda com alguns cuidados e medidas protetivas
como uso de máscara e higienização constante das mãos,
falar em alguma volta à normalidade. Com isso, avançam
os planos para o retorno ao trabalho presencial ou em
formatos híbridos. Mas no dia 11 de novembro a pandemia
completou 20 meses, um período longo e que exigiu
demais de todos em termos emocionais.
Simplesmente voltar ao que éramos antes será
muito difícil, assumindo que seja possível.
Será preciso um reaprendizado. Algumas pessoas
comentam, em tom de brincadeira, que já não sabem mais
como viver em sociedade – que desaprenderam como se
comportar em público. Por mais que seja mesmo
brincadeira, isso não está tão longe assim da realidade.
Aristóteles disse que o homem é um animal que vive em
sociedade – mas talvez isso seja algo que tenha de ser
adquirido, não um traço de algum modo inato.
Listas, receitas, métodos, programas e
recomendações de como nos reinserirmos no mundo
circulam em abundância. Esses conteúdos são
importantes, pensando que casos de ansiedade e
depressão tiveram forte crescimento ao longo da
pandemia – de 27,6% para a primeira e de 25,6%, para a
segunda, segundo pesquisa publicada na revista científica
The Lancet no mês passado. Mais do que em qualquer
outro momento de nossas vidas, cuidar da saúde, tão
atingida pelas consequências da crise sanitária, se faz
necessário nesse caminho de volta à normalidade.
Seja qual for a fórmula a se seguir, nela não
poderá faltar ao menos:
– Cuidado com a saúde física: o bem-estar físico
não está desconectado da saúde mental. Ao praticar
exercícios e estimular a liberação de dopamina e
serotonina, estamos nutrindo nosso corpo com
substâncias que elevam o prazer, a autoestima e ajudam a
equilibrar as emoções. Aqui vale encontrar a atividade que
mais combina com seu estilo, como uma caminhada pela
manhã, yoga, práticas meditativas, natação e até uma
dança de salão. Enquanto você cuida da sua saúde mental,
o corpo também agradece. Com 150 minutos de exercício
por semana é possível diminuir o risco de doenças como o
diabetes.
– Autoconhecimento: conhecer a si mesmo faz
muito sentido quando falamos sobre saúde mental.
Compreender o que gostamos de fazer, e isso inclui o
trabalho, ao qual dedicamos grande parte do tempo de
nossas vidas. Reconhecer nossos limites e se dar direito ao
descanso e ao lazer.
– Diálogo e empatia: as pessoas que estão
retomando suas rotinas agora podem voltar com muitas
sequelas desse período de isolamento. Mais do que nunca
será preciso olhar para o capital humano e acolher aqueles
que podem ter sofrido perda de familiares ou de amigos,
ou estar com sequelas da doença, com problemas para
dormir, ou que de outra forma estejam abaladas. Tudo isso
lembrando que a pandemia não acabou e que ainda é
preciso continuar com as medidas de proteção individuais
e coletivas.
Claudio Lottenberg é mestre e doutor em oftalmologia pela
Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É presidente do
conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão
Saúde.
(LOTTENBERG, Claudio. Reaprender a estar no mundo. Forbes Brasil, 09
de dezembro de 2021. Colunas. Disponível em:
https://forbes.com.br/colunas/2021/12/claudio-lottenberg-reaprender-aestar-no-mundo/.
Acesso em: 18 dez. 2021.)