"Ouvir seu coração" é conselho perigoso para tomar
decisões
Quem nunca foi incentivado a “ouvir sua intuição” ou
“fazer o que seu coração manda” na hora de tomar uma
decisão importante?
João Branco, 17 de dezembro de 2021
Devo me casar com aquela pessoa? Aceito aquela
proposta de emprego? Será que é a hora de mudar de
cidade? Que tal investir nesse negócio? Deixo meu filho ir
estudar longe sozinho?
Nossa vida é cheia de pequenas e grandes
decisões. Algumas delas nos colocam em verdadeiros
dilemas. Há escolhas que impactam tanto a nossa rotina
que se revelam verdadeiras decisões de vida. E os riscos
envolvidos nos enchem de ansiedade e preocupações. É
justamente nessas situações que a nossa essência mais
aparece.
Saber tomar decisões é uma arte difícil. Não estou
falando sobre aquela dúvida que ficamos entre pedir um
Big Mac ou um Quarteirão no almoço, mas sobre as
bifurcações que podem mudar o nosso futuro. Momentos
que tiram o nosso sono porque não são tão simples quanto
escolher entre o obviamente certo e o claramente errado.
São cenários complexos que envolvem sacrifícios e
incertezas.
Alguns anos atrás, o prêmio Nobel reconheceu o
trabalho do economista Richard Thaler, que provou que as
emoções afetam muito as nossas decisões. É isso que
explica o efeito manada na bolsa de valores ou outros
contextos em que não somos perfeitamente racionais.
É curioso pensar que a mesma pessoa pode tomar
decisões diferentes se, antes de escolher, tiver encontrado
uma nota de R$100 na rua e se sentir sortuda naquele dia,
por exemplo. Isso a deixa mais propensa a tomar riscos.
Nosso humor, estado de espírito e emoções conseguem
embaçar nossa visão e nos empurrar para um modo de
ação menos racional. E isso pode afetar nossas decisões.
Uma das soluções para este problema está em
nos prepararmos bem para as situações mais críticas. A
ciência mostra que há momentos do dia em que
conseguimos ponderar melhor as coisas como se o cérebro
estivesse mais atento. Experimentos mostraram que, ao
final de um dia de trabalho, quando já tomamos centenas
de pequenas e grandes decisões, a tendência é que nosso
cérebro, já com a energia baixa, tome atalhos e que a
decisões sejam piores.
E também temos sempre uma excelente
possibilidade de pedir conselhos, escutar pontos de vista
diferentes e, com isso, formar uma opinião mais
embasada. Mas aqui faço uma pausa. Porque pedir ajuda
para pessoas despreparadas comumente resulta em um
dos conselhos mais ouvidos da história: “siga seu coração”.
Quem nunca foi incentivado a “ouvir sua intuição”, “usar
seu sexto sentido” ou “fazer o que o seu coração manda”?
E é nessa hora que a coisa pega.
Imagine essa situação: você tem uma bomba
pronta para explodir na sua mão e tem 2 opções de fios
para cortar e tentar desarmá-la. Você prefere usar os seus
impulsos ou pedir ajuda de um especialista antibombas
para te ajudar a escolher?
Quero deixar claro: tenho convicção de que
nossos instintos são importantes. Mas eles são parte da
equação. Precisamos tomar muito cuidado porque nosso
coração é enganoso. Escolhas importantes merecem uma
boa dose de reflexão e sabedoria. Se você quer tomar boas
decisões, preste atenção à forma como decide. Costumo
dizer que “o coração da decisão é mais importante do que
a decisão do coração”. Mais valioso do que acionar os seus
impulsos é checar as suas intenções. Pergunte-se “por
que” você está preferindo uma coisa versus a outra.
Confirme se essas motivações batem com os seus valores
pessoais e com as suas prioridades de vida. E peça
orientação de bons conselheiros.
A decisão mais correta não é necessariamente a
que traz mais dinheiro, a que gera menos dor ou a que
deixa o coração mais animado por um momento, mas sim
a que deixa a nossa consciência em paz.
(BRANCO, João. "Ouvir seu coração" é conselho perigoso para tomar
decisões. Forbes Brasil, 17 de dezembro de 2021. Colunas. Disponível em: https://forbes.com.br/colunas/2021/12/coluna-joao-branco-nao-sigaseu-coracao/. Acesso em: 18 dez. 2021.)