O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
Amor borbulhante
O humor salva o casamento, desde que venha com
doçura.
Quem você ama tem esse poder de desarmar a sua
raiva. Não resisto à candura, ao carinho imprevisto.
Minha esposa têm essa habilidade ninja de converter as
minhas reclamações em momentos românticos.
Vive me acalmando e me amaciando com os seus
ataques de fofura.
Eu fico sem reação, ilhado no pedestal da cólera. Eu
perco a vontade de brigar, de disparar uma discussão de
relacionamento.
No Natal do ano passado, ela me deu um tênis de
corrida. Fez toda uma propaganda de que ele era
impermeável, não molhava, resistiria ao aguaceiro do
verão em Belo Horizonte.
Realizei a sua estreia não numa academia, não numa
esteira, não nas andanças pelo parque, mas no cinema.
Nos filmes, sempre compro um balde de pipoca, o maior
que existir, metade doce e metade salgada. E dividimos.
É nossa transgressão consentida à dieta, com aqueles
copos gigantes de refrigerante.
Sou o responsável por carregar a bandeja. No momento
de me sentar, pedi que ela segurasse um pouco para me
ajeitar. Ela pegou tudo, desajeitada, equilibrando-se
com a bolsa.
Eu me acomodei, ela inventou de me alcançar o balde
de pipoca primeiro, esquecendo o contrapeso que ele
exercia aos refrigerantes no canto da bandeja, que
viraram em cima de mim.
Tomei um banho de duas Cocas. A camisa e a bermuda
ficaram encharcadas. Pingava Coca-Cola da minha
cabeça. Eu podia ser bebido de canudinho.
A vontade era xingá-la até seus ancestrais mais remotos.
Se ela tinha culpa ou não, não importava. Eu queria um
responsável por todo o grude em meu corpo.
Ela limpou as minhas sobrancelhas e disse com uma voz
suave, tranquilizadora:
− Que bom! Já testamos o seu tênis. Ele é impermeável,
percebeu? Não entrou refrigerante nele.
Eu tive que rir. Deixei o ar-condicionado me secar.
Foi um grande teste para o tênis e para o nosso amor.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/amor-borbulhant
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