ASSALTOS INSÓLITOS – Affonso Romana de Sant’Anna
Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, contados depois, até que são engraçados. É igual a certos
incidentes de viagem, que quando acontecem deixam a gente aborrecidíssimo, mas depois, narrados aos amigos
num jantar, passam a ter um sabor de anedota. Uma vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua
casa. Até aí, nada demais. Tem gente que é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e
hospitais, mas muitos o são na própria casa. O que não diminui o desconforto da situação. Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas vestido em roupa de trabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na cozinha.
As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o marido se entregava a essa terapêutica
atividade, quando, da garagem, vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos. Mal teve tempo de tomar
uma atitude e já ouvia: - É um assalto, fica quieto senão leva chumbo. Ele já se preparava para toda sorte de
tragédias quando um dos ladrões pergunta: Cadê o patrão? Num rasgo de criatividade, respondeu: - Saiu, foi
com a família ao mercado, mas já volta. Então, vamos lá dentro, mostre tudo. Fingindo-se, então, de empregado
de si mesmo, e ao mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer: - Se quiserem levar, podem levar tudo,
estou me lixando, não gosto desse patrão. Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? Olha,
se eu fosse vocês levavam aquele som também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem
uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma
porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom. Os ladrões recolheram tudo o que o falso
empregado indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos. Sentado na sala, o marido
ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
No ônibus irrompe, de repente, um grupo de três pivetes que começam a colher das pessoas dinheiro, brincos,
pulseiras e relógios. E tudo, como sempre, muito rápido, mas na hora parece uma eternidade. Aí passam por
uma mulata e lhe pedem o dinheiro da bolsa. Ela diz que só tem quinhentos cruzeiros. O ladrão, num rasgo de
generosidade, lhe diz: - Pode ficar, você está pior do que eu. Outro assaltante, no entanto, adverte: - Tira os
brincos dela. Devem ser de lata - diz o ladrão. Insultada, e colocando-se em brios, a mulata começa a
desatarraxar os brincos e diz injuriada: - Olha aqui, são de ouro, ouviu? Ganhei de minha sobrinha que veio de
Salvador. E jogou os brincos na sacola do ladrão.
Uma amiga ia encostando seu carro na esquina da Farme de Amoedo. Um tipo com ar desses que tomam
conta de carro na rua começou a ajudar para que ela estacionasse o veículo. O carro no lugar, ela desliga a
chave, mas na hora em que ia abrir a porta, percebeu que o guardador do carro dificultava a sua saída. Não era
um guardador de carro, era um ladrão. E o pior, usava para o assalto uma arma jamais vista nessas situações.
Abriu um jornal cheio de {fezes} e disse: - Se não passar a grana, lambuzo a senhora toda. Ela não teve
alternativa. Ainda sentada ao volante abriu a carteira e tirou várias notas e deu ao assaltante, parecendo aos
demais que apenas adiantava o pagamento do estacionamento.
Lá ia pelo calçadão de Copacabana uma jovem senhora para a sua caminhada matinal. Ia de bermuda, com o
seu cachorrinho branco na coleira e com uma bela blusa que havia comprado numa liquidação na véspera. Vai
andando, desviando-se de uma bicicleta ou outra, passando por um ginasta ou outro, quando vê caminhando
em sua direção duas {pessoas}, que com um jeito íntimo lhe dirigem a palavra: - Bonita blusa, queridinha! Ela
já ia sorrir agradecendo o elogio quando as duas {pessoas}, já convertidas em ladrões, mas ainda sorrindo,
dizem: - Quer me dar essa blusa? Claro que ela não queria. Mas mostraram-lhe uma arma e tornaram a exigir
a blusa. Mas estou sem sutiã, vou ficar nua! ponderou a vítima. Ora, queridinha, vista-se com o seu cachorro.
E assim foi. Dada a blusa, a jovem senhora afastou-se abraçada ao seu cãozinho branco e peludo que lhe cobria
na luminosa manhã de Copacabana.