Abaixo à guitarra!
Havia uma rivalidade muito estimulada pela TV Record
também, que tinha um monopólio dos musicais da época,
televisão não tinha novela, o forte da televisão era o musical
e a Record tinha sob contrato 90% da música brasileira. Todo
dia tinha um programa musical e a Record tinha interesse
que os programas de televisão fossem para os jornais, para
as rádios, para a vida das pessoas; então era engraçado
porque na época se dizia que a MPB era a música brasileira
e a Jovem Guarda era a música jovem. E a gente pensava:
Meu Deus do céu, por que não pode haver uma música
jovem e brasileira ao mesmo tempo? Uma pergunta óbvia,
mas que era pertinente nesse tempo a ponto das pessoas
organizarem uma passeata em plena ditadura militar, com
tanta coisa para protestar! Organizar uma passeata com
300, 400 pessoas, com faixa, cartaz e as pessoas gritando:
“Abaixo à guitarra! Abaixo à guitarra!” A guitarra elétrica
como símbolo do imperialismo ianque, aqueles clichês do
velho comunismo que estavam muito ativos na época.
(Nelson Motta. Uma noite em 67. 2010.)