O professor de língua portuguesa: modos
de ensinar e de apre(e)nder
O tema é paradoxalmente árido e fértil: a sua aridez decorre
do desgaste que a sociedade inflige ao professor com a superexposição, geralmente negativa, em todos os setores; a fertilidade vem da perseverança que os mestres realmente apaixonados pelo que fazem, conferem à sua atividade, não se desmotivando nunca, abertos à renovação, sempre prontos a considerar
possibilidades que facilitem e/ou aperfeiçoem seu ofício. [...]
Não abordaremos aqui conteúdos, porque já são exaustivamente contemplados, mas a postura, segundo nossa concepção, do professor de Língua Portuguesa. De como o percebemos. Da sua representação.
Não há a menor dúvida de que o ensino e a aprendizagem
da Língua Portuguesa são considerados difíceis e enfadonhos.
Não se trata de dourar a pílula, dizer que há fórmulas infalíveis
de se chegar ao aluno, com aprovação e receptividade tais, que
nos esperarão nas salas, ansiosos, motivados e prontos para
aulas magníficas e inesquecíveis.
Por uma série de circunstâncias, não existe esse contexto,
pelo menos em termos tão otimistas, infelizmente, para todos
nós, professores de Língua Portuguesa.
Quando falamos a respeito de ensino, não o fazemos com
distanciamento. Somos (sempre seremos), por efetiva prática,
professora de Educação Infantil (antigo Primário), Fundamental
e Médio, durante anos (aposentando-nos no Município com
tempo integral, dando aulas), estando atualmente no Ensino
Superior com docência e pesquisa.
[...]
Voltando à questão central, qual deve ser realmente o
perfil do professor de Língua Portuguesa?
Primeiramente conscientizar-se de que professor de Língua
Portuguesa não é só ser professor de Gramática. É ser polivante.
Por tal, entenda-se, relacionar-se bem com Leitura, Literatura,
Filologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, História, Geografia
porque efetivamente uma língua viva se funda em tudo isso, é
denominador comum, é fator de unidade, polariza, congrega,
instiga, enfim, é agente de cultura.
[...]
A Língua Portuguesa está presente em tudo: dentro e fora
da instituição escolar. Ela é o código maior de comunicação, o
mais fácil, o mais à mão. Há de ser enriquecida diuturnamente.
Voltando para a Gramática, para não dizer que não falei de
flores (gramaticais ou verbais), torna-se claro que o professor de
Língua Portuguesa precisa ensinar gramática. Então, acaba o
encanto da globalização linguística? Respondemos que não,
porque o professor não se limitará a reproduzir “gramatiquices”, regras e exceções, conceitos passados como verdades absolutas, nomenclaturas isentas de críticas, séries de exercícios
monótonos e repetitivos.
[...]
A figura do professor que, então, transmitirá a tal gramática é essencial, não acessória, as luzes concentrando-se
nele, brilhando sempre intensamente, lembrando um farol
no meio da escuridão.
Antes de mais nada, não será um acomodado, abrindo
a Gramática e lendo conceitos ou usando o livro didático
como muleta e não complemento. [...]
Deve ser crítico e fazer com que seus alunos (com as
adequações compatíveis ao nível) exerçam o sentido da crítica, conhecendo teorias diversas, sem medo de ser avançado (ousado) demais ou tradicional (antigo, ultrapassado),
lembrando-se de que como usuário da língua (para comunicar-se simplesmente ou fazer uso de sua função expressiva,
estética), ele tem direitos e deveres, não sendo indiferente,
alheio, neutro. [...]
Para nós, assim deve ser o professor de Língua Portuguesa: não limitado ou escravo de livros ou teorias, mas antenado à vida, comprometido tanto com a tradição quanto
com a modernidade, evoluindo sem temer o novo, fiel à sua
consciência sempre e preocupado em dar e fazer o melhor.
[...]
(PEREIRA, Maria Teresa Gonçalves. Fragmento adaptado. O professor
de língua portuguesa: modos de ensinar e de apre(e)nder.)