Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e
tem vida organizada. É aparentemente um povo feliz, de cabeça
muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não
perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do mundo.
E o que eles dizem com os pés dá a impressão de serem coisas
aladas, cheias de sabedoria. Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns
professores tentaram imitar esses nativos e foram recolhidos ao
hospital da ilha. Os cabecences-para-baixo, como foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova
Aguillar, 2003. p. 150.)