Quem começou o ano com a resolução de buscar um maior
equilíbrio entre a vida familiar e profissional, iniciou com o pé
direito. Um relatório lançado recentemente pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT) mostra a importância de uma
melhor conciliação entre trabalho e família, tanto para o mundo
do trabalho como para a saúde e vida pessoal. O estudo mostra
que mais de um terço de todos os trabalhadores trabalha mais de
48 horas por semana, sendo esta situação mais prevalente na
economia informal. Longas jornadas são associadas a uma
menor produtividade do trabalho e menor qualidade na relação
casa-trabalho. Segundo dados apurados, no Brasil, a média de
horas trabalhadas por semana é de 39,5, bem superior à medida
dos países da OCDE (37,4 horas semanais). Os trabalhadores
por conta própria apresentam jornadas mais longas: em média
45,5 horas.
Se trabalhar muito é um problema, trabalhar pouco também
pode significar uma subutilização da mão de obra. Estima-se que
cerca de 20% da força de trabalho tenha uma jornada inferior a
35 horas, o que pode indicar a prevalência de empregos parciais
e mais precários. Para as empresas, por outro lado, atribulações
entre trabalho e família podem trazer impactos negativos sobre
os níveis de desempenho, motivação e produtividade, maior
ausência no trabalho e problemas de gestão da equipe.
Para os trabalhadores, a falta de equilíbrio entre a vida
laboral e pessoal pode levar à deterioração do bem-estar e da
saúde mental e emocional, incluindo aumento da ansiedade,
estresse, depressão e abuso de substâncias. As medidas
adotadas durante a pandemia da Covid-19 produziram novas
evidências de que proporcionar aos trabalhadores maior
flexibilidade sobre como, onde e quando trabalhar pode ser
positivo para trabalhadores e empresas, por exemplo, ao
melhorar a produtividade. Por outro lado, restringir a flexibilidade
traz custos substanciais, incluindo uma maior rotatividade de
pessoal.
Nos países desenvolvidos, o chamado fenômeno da
“Grande Demissão” colocou o equilíbrio trabalho-vida pessoal no
topo das questões sociais e do mercado de trabalho no
pós-pandemia.
Nos países em desenvolvimento, caracterizados
por altas taxas de informalidade, a maior parte dos trabalhadores
não pode sequer considerar essa opção. Se por um lado, a
ascensão do trabalho remoto durante a pandemia trouxe maior
flexibilidade para a organização do tempo de trabalho, por outro
lado fez com que lares se convertessem em ambientes de
trabalho. Em princípio, pensávamos que o home office* poderia trazer oportunidades para passar mais tempo com a família, em
razão da diminuição de deslocamentos e flexibilidade de
horários. Entretanto, estudos demonstram que, em muitos casos,
houve aumento das horas trabalhadas, menor sociabilização,
mudança de rotina, prejuízo com respeito ao desenvolvimento de
habilidades comportamentais, como a comunicação e a
inteligência emocional, além de novos desafios relacionados à
Saúde e Segurança no Trabalho (SST).
A fim de amenizar este quadro, é necessário que governos,
empresas e sindicatos tenham um papel proativo na promoção
de ambientes de trabalho seguro e saudáveis. É fundamental
fortalecer os marcos regulatórios sobre o tempo máximo de
trabalho e os períodos de descanso. Estas são conquistas que
contribuem para a saúde e bem-estar a longo prazo de uma
sociedade e não devem ser postas em risco. Atrela-se a essa
medida a realização da gestão dos riscos psicossociais no lugar
de trabalho, seja na empresa ou no home office. É importante que
os empregadores implementem medidas institucionais para
avaliar e imediatamente mitigar, modificar ou diminuir os riscos
para a saúde mental no ambiente de trabalho.
(Jornal O Valor, 20.01.2023. Adaptado).
*Modalidade de trabalho que possibilita ao indivíduo realizar suas
atividades de sua própria casa.