“O mato”
Nas cercanias de um bairro antigo, há um terreno
baldio coberto por uma profusão de plantas silvestres. De
longe, parece apenas um emaranhado confuso de mato;
mas, ao se aproximar, percebe-se a imensa variedade de
folhas, flores e caules que ali brotam.
O narrador, ao passar diante daquele terreno,
sente um misto de curiosidade e encanto. Observa que,
mesmo num espaço urbano, a natureza resiste e insiste
em surgir onde há descuido ou abandono humano.
Em meio aos arbustos, vislumbra borboletas e
até alguns pássaros de pequeno porte, que ali encontram
abrigo ou alimento. O lugar, antes visto como mero
símbolo de desordem, revela-se também habitat de vida
pulsante.
Através de lembranças de infância, o narrador
recorda quando explorava terrenos semelhantes para
caçar vagalumes ou catar frutas caídas. Nesses devaneios,
percebe o quanto a cidade se transforma, mas o mato
continua a brotar, teimoso e gratuito.
Às vezes, o mato é arrancado ou queimado para
dar lugar a construções. Porém, enquanto não surgem
paredes e cimento, a vegetação retorna, num ciclo quase
inevitável. Para o narrador, essa força silenciosa contrasta
com a pressa e a artificialidade urbanas.
Ele considera o mato um lembrete de que a
natureza não se rende facilmente: uma semente esquecida
pode florescer, um espaço vazio pode se tornar um
refúgio verde. E, nesse contraste, identifica uma forma de
poesia espontânea.
Há quem passe pelo lugar e o considere feio ou
sujo. Outros sentem receio de bichos ou insetos que
possam viver ali. O narrador, entretanto, enxerga a beleza
que se esconde nos detalhes, nas cores e movimentos.
Ao final, ele reflete sobre a finitude das coisas.
Sabe que um dia o terreno será comprado, murado ou
transformado em prédio. Mas, até lá, aquele mato
continuará existindo como testemunha da vitalidade que a
natureza mantém, mesmo em meio ao concreto.
Fonte: “O mato”, Rubem Braga. (Adaptado)