Produção de combustíveis fósseis excederá 120% do
limite seguro em 2030
Apesar dos frequentes (e intensos) efeitos das
mudanças climáticas, a humanidade segue investindo na
principal causa dessa ameaça para a vida no planeta: a
exploração dos combustíveis fósseis. A queima deles em
usinas, fábricas e carros é responsável por 90% das
emissões de dióxido de carbono – e sua produção segue
crescendo em ritmo alarmante. É o que mostra um
relatório inédito feito pelo Programa da ONU para o Meio
Ambiente, o UNEP.
O relatório mostra uma grande discrepância entre
expectativa e realidade – o que os especialistas chamam
de “lacuna de produção”. Vamos por partes. A expectativa
são as metas de redução de emissões que cada país
submeteu por meio do Acordo de Paris, em 2015, com o
objetivo de impedir que o aquecimento global ultrapasse
2°C acima dos níveis pré-industriais – e, se possível,
manter o aumento em 1,5°C.
Esses são os níveis considerados seguros pela
comunidade científica para evitar grandes catástrofes.
Mas, mesmo dentro desses limites, centenas de milhões
de pessoas vão sofrer graves consequências.
Eventos climáticos extremos, como ondas de
calor, secas, inundações, trarão impactos indesejados na
economia e sociedade. De acordo com o IPCC, Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, as
emissões de CO2 geradas pela queima de combustíveis
fósseis teriam de ser reduzidas em 6% ao ano para
seguirmos pelo caminho seguro no rumo dos 2°C. Em vez
disso, o consumo e a produção só aumentam.
Vale frisar que, mesmo com as metas de redução
do Acordo de Paris, a temperatura da Terra vai subir entre
3 e 4°C, segundo a própria ONU. Será preciso fazer mais
– e melhor.
Muito se discute sobre como reduzir as emissões
de CO2 – e isso se reflete nos planos nacionais de
mitigação do tratado e nas diversas legislações. Mas a
grande maioria sequer menciona o outro lado da moeda: a
produção. E há um motivo para isso. Mesmo os países
mais comprometidos em atenuar a ameaça da crise
climática ainda continuam oferecendo subsídios,
incentivos e financiamento a projetos de infraestrutura
para combustíveis fósseis.
Mas, por que não cortar isso de uma vez?
Acontece que quando as estruturas bilionárias de
exploração estão prontas, simplesmente abandoná-las se
torna bem mais complicado e economicamente
desvantajoso. Quem ostenta a maior lacuna de produção
é o carvão.
Para reverter essas projeções preocupantes, a
única saída é parar de vez de investir. “Mesmo com mais
de duas décadas de adoção de políticas climáticas, os
níveis de produção de combustíveis fósseis estão mais
altos que nunca”, disse em comunicado Måns Nilsson,
diretor do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), que
colaborou com o estudo.
https://super.abril.com.br... - adaptado.