Centenário de César Lattes
Você sabia que a plataforma Lattes, que reúne
currículos acadêmicos no país, foi batisada em homenagem
ao físico César Lattes? Nascido em Curitiba há cem anos, no
dia 11 de julho de 1924, Lattes se graduou em física e
matemática na USP e, até hoje, é tido como o mais brilhante
dos jovens físicos daquela geração.
Lattes se destacou por apoiar iniciativas que
alavancaram a ciência e a pesquisa no país, como o Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o
Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Sua maior façanha,
porém, foi a descoberta de uma das sub-partículas
responsáveis pela coesão do núcleo do átomo. Na época,
uma das principais questões da física atômica era saber
como os prótons mantinham-se unidos nos átomos.
Intrigado com isso, Lattes, acompanhado do professor
Giuseppe Occhialini, foi para a Universidade de Bristol, na
Inglaterra, onde integrou a equipe chefiada por Cecil Powell.
Em 1947, Lattes foi até um pico nos Andes
Bolivianos para estudar os raios cósmicos. A ideia era
“fotografar” a trajetória das partículas oriundas desses raios
por meio de chapas fotográficas de emulsão nuclear. Antes
da viagem, Lattes pediu à Kodak que acrescentasse mais
boro à composição das placas. Graças a isso, a revelação das
chapas mostrou o que seria identificado como uma nova
partícula atômica, o méson pi. A descoberta foi descrita por
Lattes em um artigo na revista Nature em 1947: o texto é co-
assinado por seus colegas de laboratório, Powell, Occhialini
e Muirhead. Essa façanha marcou o início de um novo
campo de estudos, a física das partículas elementares.
Três anos depois, o comitê do Nobel concedeu o
prêmio de Física a Cecil Powell pelo desenvolvimento do
método fotográfico para estudo de processos nucleares e
por achados relacionados aos mésons. O prêmio não ter ido
para o brasileiro foi devido à política do Nobel. Até 1960, a
regra era premiar apenas o responsável pela equipe.
Mas a injustiça não apagou o papel de Lattes na
história da ciência. Pela descoberta do méson pi aos 27 anos
de idade, o brasileiro até hoje é lembrado por mudar os
rumos da física, dando espaço para o surgimento de um
novo campo de estudos, e pelos seus esforços em
desenvolver a educação e a ciência de ponta no Brasil. Lattes
morreu em 2005, aos 80 anos, em Campinas (SP).
Marília Marasciulo – Revista Galileu. Adaptado.