INSTRUÇÃO: Leia o texto 3 a seguir para
responder à questão
Brasil está entre as nações mais digitalizadas do
mundo, mostra pesquisa
O imenso desafio agora é levar a tecnologia para
todos os segmentos da sociedade
Por Alessandro Giannini
O Brasil, não há dúvida, é palco de imensas e
inaceitáveis contradições. Mesmo com renda
média mensal per capita de escassos 1376 reais e 11,3 milhões de pessoas desempregadas, é também
um dos países mais digitais do mundo. O contraste
ficou evidente em uma pesquisa realizada pelo
Centro de Tecnologia Aplicada da Fundação
Getulio Vargas (FGVcia), que traz um retrato
abrangente do mercado de tecnologia de
informação no país. Apurado entre 2650 médias e
grandes empresas que atuam em território
brasileiro, o levantamento traz números
impressionantes. A fotografia mostra que estamos
muito bem no atacado, acima da média mundial
em alguns recortes. No varejo, contudo, é preciso
preencher lacunas, melhorar políticas públicas e
levar o acesso à internet para todas as camadas da
população.
A pesquisa mostra que há hoje 447 milhões de
dispositivos digitais em uso doméstico ou
corporativo no país. A categoria engloba
computadores de mesa, notebooks, laptops, tablets
e smartphones. Em uma conta simples, são mais
de dois equipamentos por habitante, incidência
semelhante à de nações ricas. No entanto, o
resultado ainda está distante do país mais
tecnológico do mundo, os Estados Unidos.
Segundo um levantamento realizado em 2020, o
americano médio tem acesso a pelo menos dez
aparelhos desse tipo — misto de obsolescência
acelerada e exagero de consumo. Nos rankings de
digitalização, uma boa surpresa vem da Estônia, o
pequeno país do Leste Europeu. Atualmente, 99%
dos serviços públicos locais são acessados de
maneira on-line e estudos revelaram que a alta
conectividade acelerou o PIB.
Uma análise apressada pode sugerir que os
números brasileiros são turbinados pela presença
maciça de smartphones. De fato, eles são
onipresentes no país. Há 242 milhões de celulares
inteligentes em funcionamento, mais do que os
212,2 milhões de habitantes. O Brasil já é o quinto
maior mercado do mundo, posição notável
considerando que é atualmente apenas a 13ª
economia do planeta. Tudo isso é verdade, mas
uma espiada em outro indicador mostra que há muitos avanços em diversas áreas. Um exemplo
marcante é o total de computadores ativos,
subcategoria que inclui apenas os desktops,
notebooks e laptops, além dos tablets. São 205
milhões em operação neste exato momento, mas a
projeção da FGV estima que o número deverá
pular para espetaculares 216 milhões no início do
próximo ano, atingindo assim a marca simbólica
de um aparelho por habitante. Isso, claro, se não
houver nenhuma grande turbulência econômica até
o fim do ano, o que não é de se duvidar em se
tratando de Brasil — e convém sempre estar atento
a freadas bruscas.
A pandemia — sempre ela — teve papel
determinante no aumento das vendas de
computadores em 2021, muito em decorrência da
necessidade de manter o trabalho e o ensino
remotos enquanto as regras sanitárias de
distanciamento social estavam em vigência. O
resultado foi um crescimento de 27%, com 14
milhões de unidades vendidas. Com a manutenção
do modelo híbrido nos escritórios e escolas, a
tendência é que em 2022 o mercado cresça perto
de 10%. ―Comparado com o mundo, nós estamos
muito bem, obrigado‖, afirma Fernando Meirelles,
professor de TI da FGV, coordenador do
levantamento.
Um computador e um celular por habitante são
índices notáveis para uma nação que está muito
longe de ser considerada desenvolvida (basta dar
uma olhada nos indicadores de saneamento para se
assombrar com os gargalos brasileiros). A questão
é que o Brasil tem uma base digital relevante, mas
ela não está bem distribuída. As classes mais
baixas usam modelos muito limitados em termos
de recursos. Isso traz sérios problemas, como o
enfrentado pela Caixa Econômica Federal, que
precisou refazer várias vezes seu aplicativo para o
pagamento do programa Auxílio Brasil.
[...] O Brasil digitalizado é uma realidade
inescapável. A explosão de investimentos em
tecnologia da informação e das vendas de
aparelhos digitais durante a pandemia, no entanto, não explica sozinha como esse caminho está sendo
percorrido. Segundo Felipe Mendes, diretor-geral
da empresa de pesquisas GfK, o que vem
crescendo mesmo é o acesso — em 2020, 83% dos
lares brasileiros tinham banda larga, contra 71%
no ano anterior. ―O poder da disponibilidade da
internet associada à penetração do celular é de fato
o grande elemento de digitalização sobre qualquer
outro produto que a gente possa pensar ou
discutir‖, afirma Mendes. Deve-se celebrar o
Brasil digitalizado, atalho para o aumento de
produtividade. Insista-se, contudo: há avanços
extraordinários, mas precariedades também.
Equilibrar o jogo é um desafio monumental, que
não pode jamais ser negligenciado — a sorte é que
a tecnologia pode ajudar a diminuir o fosso.
Disponível em:
https://veja.abril.com.br/tecnologia/brasilestaentre-as-nacoes-mais-digitalizadas-do-mundomostrapesquisa/. Acesso em: 3 jun. 2022.