“Certa vez, numa escola da rede municipal de São Paulo,
que realizava uma reunião de quatro dias com professores e
professoras de dez escolas da área para planejar em comum
suas atividades pedagógicas, visitei uma sala em que se expunham
fotografias das redondezas da escola. Fotografias de
ruas enlameadas, de ruas bem-postas também. Fotografias
de recantos feios que sugeriam tristeza e dificuldades. Fotografias
de corpos andando com dificuldade, lentamente, alquebrados,
de caras desfeitas, de olhar vago. Um pouco atrás
de mim dois professores faziam comentários em torno do que
lhes tocava mais de perto. De repente, um deles afirmou: “Há
dez anos ensino nesta escola. Jamais conheci nada de sua
redondeza além das ruas que lhe dão acesso. Agora, ao ver
esta exposição de fotografias que nos revelam um pouco de
seu contexto, me convenço de quão precária deve ter sido a
minha tarefa formadora durante todos estes anos. Como ensinar,
como formar sem estar aberto ao contorno geográfico,
social, dos educandos?"
(Freire, Pedagogia da autonomia,
1996)
A reflexão de Paulo Freire nos remete a uma dimensão do
currículo amplamente discutida por Tomaz Tadeu da Silva.
Trata-se de categorias como: