Para responder à questão proposta, leia
com atenção o texto de Mary del Priore, publicado no
jornal O Estado de São Paulo (03/01/2010).
O futuro é um mistério
Nesta época do ano, é impossível escapar à tentação
de fazer previsões. Afinal, desde a pré-história, o
homem não deixa de querer conhecer o futuro e de
dominá-lo. Das técnicas de adivinhação inventadas
pelos povos da Antiguidade aos métodos “científicos”,
elaborados por técnicos, os meios de predição variam:
astrologia, leitura da borra de café ou cartas, até por
internet. Pouco importa. Cada época tem necessidade
de sonhar com um amanhã: melhor ou pior. Oráculos,
profecias, predições, utopias, todas as antecipações
que os homens construíram, no decorrer da história,
não se realizaram. Mas elas são reflexos de suas
esperanças e crenças.
Um poeta disse que, para ser profeta, bastava ser
pessimista. Já na metade do século 19, havia quem
escrevesse sobre um mundo futuro mecanizado, sem
idéias espirituais, vivendo-se ao ritmo das crises
econômicas e ameaças de guerra. Marcados pela
Primeira Guerra Mundial, muitos pensadores fizeram
coro ao pessimismo. Freud contestou a ideia de
progresso e supôs a existência de um instinto de
destruição. Não faltou quem visse nas marcas do
tempo o anúncio do fim de tudo, ou uma caminhada
na direção ao sofrimento, como predisse o escritor
George Orwell. Grande parte desse pessimismo se
enraizava na tomada de consciência de uma distância
crescente entre progresso técnico e progresso moral.
Para solucionar essa pendência, em 1971, o Clube de
Roma reuniu uma elite de pensadores. Conclusão? O grupo anteviu que o crescimento demográfico e
econômico provocaria uma catástrofe e uma crise
/
ecológica sem precedentes, em meados do século 21.
E nós ainda acreditamos em previsões? Acho que, se
os brasileiros mudaram, foi no sentido de não
acreditarem mais nelas. Deixamos para trás a atitude
infantil de insistir em sonhos que acabam em
decepções. Ou de crerem falsas promessas. Nunca o
futuro foi tão misterioso quanto neste início de século
21. Nenhuma máquina de previsão conseguiu explicar
a complexidade do mundo atual, onde tudo se
confunde, onde realidade e espetáculo se misturam,
valores e ideologias desmoronam, tudo se
desencanta. Aquecimento do planeta, desastres
climáticos, aumento do nível dos oceanos, fim das
florestas, fome, corrupção em toda a parte,
empobrecimento dos mais pobres, enriquecimento
dos mais ricos, enfim, a lista é longa. A resposta,
talvez, esteja em fugir das previsões de futuro e jogar
no presente. Vivê-lo com delicadeza e investir nos
pequenos prazeres. Fórmula excelente para
enfrentarmos o apocalipse, como querem muitos. Ou
o paraíso, como esperam outros.