A questão abaixo refere-se ao Texto 1, a seguir. Leia-o com atenção, antes de
respondê-las.
Quem passou por alguma praia recentemente talvez tenha se deparado com um fenômeno comum,
mesmo nas regiões mais remotas do litoral brasileiro: o lixo. Em uma caminhada de uns dez minutos
que fiz no litoral de Santa Catarina no começo de janeiro, por exemplo, encontrei garrafas pet, latinhas
de cerveja e de energéticos, canudinhos, plásticos de picolé. Fui recolhendo o que achei até que,
sozinha, eu não tinha mais braços suficientes para tanto lixo acumulado.
O problema é que quando a maré sobe, ou quando chove, tudo aquilo que se acumula na areia
vai para o mar – e causa um estrago danado. Já há, inclusive, estudos que mostram que até 2050 os
Oceanos terão mais plásticos do que peixes.
Por que as pessoas jogam lixo na praia? Fiz essa pergunta alto para quem estava lá comigo entre
latinhas e pacotes de batata frita e tive como resposta o mesmo que você deve ter pensado: “as pessoas
não têm educação”. Ok. Então vamos entender o que isso significa.
“Não ter educação” e, por causa disso, jogar lixo na praia, na rua e nos espaços públicos, pode ser
entendido como falta de conhecimento. Não aprendi algo, por isso tenho uma determinada atitude por
desconhecimento dos impactos do que eu faço. As pessoas, em tese, não saberiam que aquele lixo
plástico jogado na areia inevitavelmente vai parar no mar. Tampouco saberiam que o peixe pode ingerir
esse plástico, então você “come o plástico” simplesmente porque come o peixe. É a ideia de “cadeia
alimentar”, que aparece na escola no ensino fundamental e pode ser tema até de vestibular.
Não me parece, no entanto, que o lixo naquela praia seja um caso de falta de conhecimento. Chuto
dizer que a maioria das pessoas que estava lá em Santa Catarina – e que jogou latinha de cerveja por
onde passou – tinha passado pelas aulas de biologia da escola. Aquelas pessoas provavelmente tinham
diploma de ensino superior – ou até alguma pós-graduação. Cruzei com gente opinando sobre política
e ostentando um português elegante – ou falando outras línguas, como espanhol e alemão.
O problema pode estar no formato da nossa educação. Aprendemos conceitos importantes de
maneira muito teórica e temos aulas expositivas focadas em livros didáticos com pouca experimentação.
Pode ser que aquelas pessoas da praia tenham conhecimento ambiental, mas não internalizaram os
conceitos aprendidos. Trocando em miúdos: quem joga uma sacola plástica na areia da praia pode
até acertar uma questão do Enem sobre poluição ou cadeia alimentar, por exemplo, mas talvez não
compreenda completamente que aquele seu próprio lixo interfere no ecossistema do qual faz parte.
Mais: pessoas altamente instruídas no Brasil podem ter baixíssima noção de cidadania, do que é
ser cidadão, de regras de divisão de espaços públicos. Talvez porque estejam viciadas pelos hábitos
de gerações anteriores, que jogavam lixo na praia, as pessoas seguem fazendo o mesmo. Ou então
aquelas pessoas estão mais acostumadas a ambientes privados e controlados, e acreditam que sempre
haverá alguém para limpar o rastro que se deixa por aí.
Aqui, vamos das aulas de ciências à sociologia. Será que estamos discutindo o suficiente, na escola,
sobre a formação sociocultural brasileira, que é impregnada pela ideia de “ser servido”? E debatemos o
quanto isso afeta, inclusive, o nosso próprio ecossistema?
RIGHETTI, Sabine. Disponível em:<http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/lixo-na-praia-mostra-que-precisamos-muito-mais-do-que-educacao/>.
Acesso em: 1 fev. 2018.