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Na era da internet, com seus “rsrsrs" e as “longas" mensagens
de 140 caracteres do Twitter, que lugar haveria para a
retórica, a invenção dos gregos clássicos para permitir que nas
democracias o bom cidadão pudesse defender seus pontos de
vista falando bem? Na semana passada, o julgamento do mensalão
no STF pôs em evidência os advogados dos réus. Eles
foram lá exercitar sua retórica, uma vez que as peças de defesa
já haviam sido escritas e enviadas aos ministros do tribunal. Os
defensores, com raras exceções, saíram-se muito mal no quesito
da retórica – que não é blá-blá-blá.
Quando assumiu o posto de presidente da Suprema Corte
dos Estados Unidos, Earl Warren perguntou a um colega mais
antigo em quem confiava plenamente o que ele deveria ler para
conseguir escrever suas sentenças no alto nível que as circunstâncias
exigiam. O colega de Warren, Hugo Black, respondeu:
“Basta ler Retórica, de Aristóteles".
Sábio conselho. Com a democracia, os gregos criaram esse
mecanismo de sustentação oral baseado na lógica e na honestidade
de pensamento a que chamaram de retórica. Os cidadãos
eram frequentemente obrigados a defender em público não
apenas ideias, mas sua propriedade e até a própria liberdade.
Aristóteles ensinou que persuadir uma audiência nada tem a ver
com eloquência. Isso é sofisma. O que separa um cidadão grego
dotado da retórica de um mero sofista? A retórica vencedora não
depende do dom da oratória, mas do valor moral do orador.
(Otávio Cabral e Carolina Melo. A retórica não é blá-blá-blá. Veja, 15.08.2012)
A palavra que melhor traduz a ideia acerca da qualidade do orador, no contexto, é