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De patas para o ar
Rafiki é um angolano, filho de uma economista e de um
funcionário de multinacional. Veio para o Brasil estudar medicina e foi surpreendido pela carga de preconceito que encontrou aqui. Já enfrentou o constrangimento de perceber que
pessoas fecham os vidros dos carros nos sinais quando o
veem, ou mulheres se agarram a suas bolsas ao cruzarem
com ele na calçada.
O universitário Rafiki mora em um bairro de classe média
alta e uma noite, quando estava para entrar em seu prédio,
viu um casal passar por ele, entrar e bater a porta. O angolano
entrou em seguida e encontrou o casal esperando o elevador.
Como a mulher o encarava insistentemente, ele perguntou:
─ Estou sujo? Tem alguma coisa errada comigo? Qual é
o problema?
O marido se desculpou dizendo:
─ Sabe como é hoje em dia, né? A gente tem que ficar
ligado...
Quando as pessoas, porém, ficam sabendo que Rafiki é
estudante de medicina, mudam a forma de tratá-lo.
Rafiki também não compreende um comportamento que
chama sua atenção no Brasil: as pessoas pedirem informações na rua sem antes dizer “bom dia”, “por favor”, “com licença”. Mas ele não acredita que essa falta de educação seja
maior aqui do que em outros países. A gentileza tem sido
pouco valorizada. Rafiki costuma dizer ultimamente que o
mundo todo está de patas para o ar.
(Leila Ferreira. A arte de ser leve. São Paulo: Globo, 2010. Adaptado)