Leia o texto, para responder a questão.
Eram duas mulheres brigando – e depois não houve
nada. Embolaram-se por qualquer motivo, e não queriam desprender-se uma da outra. Não havendo superioridade física
acentuada de uma das partes, as duas se fundiram num corpo confuso e sacudido de vibrações que ia e vinha pela calçada, lento e brusco, nervoso e rítmico. O instinto de dança
subsistia no íntimo das contendoras, prevalecendo sobre as
tentativas dos corpos para se abaterem mutuamente, e tudo
se fazia em silêncio, como se baila, mesmo porque nenhuma
palavra adiantaria à cólera das mulheres, que só o jogo de
músculos e nervos saberia exprimir numa linguagem dinâmica e cheia de consequências.
Brigaram bem cinco minutos, uma eternidade para entreveros. Não tinham pressa de acabar.
Brigavam com fúria e ao
mesmo tempo com método. O fato de uma não ser bastante
vigorosa para decidir logo a peleja não impediu que ela dominasse a outra. Dominava, mas a outra não se rendia.
(Carlos Drummond de Andrade. Luta. Fala, amendoeira)