Leia o texto para responder à questão.
Dieta salvadora
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue
dar um destino razoável ao lixo que produz. E não se contenta
em brindar os mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos.
Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças de automóveis. Tudo que perde o uso
é atirado num curso d’água, subterrâneo ou a céu aberto, que
se encaminha inevitavelmente para o mar. O resultado está nas
ilhas de lixo que se formam, da Guanabara ao Pacífico.
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça,
Itália, China e dos Emirados Árabes descobriram em duas
ilhas gregas um micróbio marinho que se alimenta do carbono
contido no plástico jogado ao mar. Parece que, depois de
algum tempo ao sol e atacado pelo sal, o plástico, seja mole,
como o das sacolas, ou duro, como o das embalagens, fica
quebradiço – no ponto para que os micróbios, de guardanapo
ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os cientistas
estão agora criando réplicas desses micróbios, para que eles
ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago.
Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
Karel Čapek, um explorador descobre na costa de Sumatra uma
raça de lagartos gigantes, hábeis em colher pérolas e construir
diques submarinos. Em troca das pérolas que as salamandras
lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defenderem dos
tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se reproduzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar e
inundam os continentes. Passam a ser bilhões e tomam o mundo.
Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo
podem se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as
salamandras aprendem a gerir o mundo melhor do que nós.
Com os micróbios no comando, nossos mares, pelo
menos, estarão a salvo.
(Ruy Castro. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/. 31.05.2019. Adaptado)