Desculpe-me pelo trocadilho, caro leitor, mas muitos estudos no campo da nutrição são indigeríveis. Há os que sugerem que consumir um ovo por dia encurtaria nossa expectativa de vida em seis anos, e, por outro lado, os que apontam
que ingerir 12 avelãs diariamente nos faria 12 anos mais longevos. Seriam esses resultados minimamente plausíveis?
Tendo essa pergunta como pano de fundo, John Ioannidis, proeminente cientista de uma universidade americana,
tem duramente criticado não somente os achados pouco
admissíveis de famosos estudos nutricionais populacionais,
mas especialmente suas falhas metodológicas.
Segundo Ioannidis, as conclusões exorbitantes geradas por
esses estudos devem-se, antes de tudo, a uma falha de análise e interpretação. Em geral, estudos populacionais são de
natureza associativa, e a associação entre duas variáveis não
necessariamente implica causalidade entre elas. Vejamos este
exemplo. No passado, o consumo de café foi correlacionado
com risco aumentado de câncer. À época, muitos concluíram
que a bebida seria a responsável pela doença. As suspeitas somente seriam encerradas com a constatação de que o hábito de
tomar um cafezinho frequentemente acompanha o do tabagismo – este sim o fator causal por trás da inverídica associação.
(Bruno Gualano. Por que o ovo que te faz bem hoje te mata amanhã.
www1.folha.uol.com.br, 01.11.2021. Adaptado)