Comida que conforta
Pode ser o fim de um romance, as saudades de uma pessoa querida, uma melancolia sem razão aparente, uma crise
ou a simples despedida de uma gripe. O fato é que, sentindo
uma mistura de tristeza e desamparo, vem, do nada, aquela
vontade de tomar a sopa que a mãe fazia, saborear o bolo
de cenoura que se levava de lanche para a escola ou comer
aquela barra de chocolate que há tanto tempo não fazia mais
parte de uma dieta.
Esses alimentos que a alma, mais do que o corpo, parece
exigir em dados momentos é a chamada comida que conforta. São pratos, iguarias ou guloseimas que trazem aconchego e bem-estar emocional. Às vezes, evocam memórias
preciosas, outras vezes nos presenteiam com um sabor que
anda faltando em nossas vidas. A canja de galinha que anima
o doente, a taça transbordante de sorvete que nos faz esquecer, ainda que momentaneamente, as decepções da vida. E
a deliciosa combinação de pão com mortadela e guaraná que
nos leva de volta à infância – tudo isso é comida que conforta,
comida carregada de sentimentos.
As massas são comidas que confortam clássicas, assim
como os pães: alguém consegue ficar triste diante de um pãozinho fresquinho com manteiga ou uma travessa de espaguete com molho de manjericão e tomate fresco? E é bom lembrar: comida que conforta que se preze não economiza em
carboidrato, gordura, açúcar e calorias. Comida que conforta
tem que ser gostosa e o que é gostoso sempre vem acompanhado de calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura
sabor de verdade com memórias e sentimentos.
(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado)