Está plenamente adequada a articulação entre tempos e modos...
Os privilegiados da Terra
O fragmento de satélite artificial – só podia ser de satélite – caído sobre o povoado transformou de repente a vida dos moradores, que não chegavam a trezentos.
Repórteres e cinegrafistas cobriram o fato com o maior relevo. Não houve ninguém que deixasse de dar entrevista.
O fiscal do Governo apareceu para recolher o pedaço de coisa inédita, mas foi obstado pelo juiz de paz, que declarou aquilo um bem da comunidade. A população rendeu guarda ao objeto e jurou defender sua posse até o último sopro de vida.
A força policial enviada para manter a ordem aderiu aos moradores, pois seu comandante era filho do lugar. Acorreram turistas, pessoas dormiam na rua por falta de acomodação, surgiram batedores de carteira, que foram castigados, e começou a correr o boato de que aquele corpo metálico tinha propriedades mágicas.
Quem chegava perto dele seria fulminado se fosse mau caráter; conquistava a eterna juventude se fosse limpo de coração; e certa ardência que se evolava da superfície convidava ao amor.
Não se desprendeu do satélite, diziam uns; veio diretamente do céu, emanado de uma estrela, alvitravam outros. De qualquer modo, era dádiva especial para o lugarejo, pois ao tombar não ferira ninguém, não partira uma telha, nem se assustaram os animais domésticos com sua vinda insólita.
Tudo acabou com o misterioso desaparecimento da coisa. Seus guardas foram tomados de letargia, e ao recobrarem a consciência viram-se despojados do grande bem. Mas tinham assimilado esse bem, e passaram a viver de uma alegria inefável, que ninguém poderia roubar-lhes. Eram os privilegiados da Terra.
(Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis)
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Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
b) Os policiais acabarão por aderir aos moradores, uma vez que seu comandante fosse oriundo daquele lugar. errado- a oração é subordinada adverbial causal, a qual não admite a colocação de verbo no pretérito imperfeito do modo subjuntivo.
c) Quem chegar perto da coisa viria a ser fulminado, fosse uma pessoa de mau-caráter. errado- SE fosse
d) Se daquele objeto proveio algum mal, ele não seria considerado uma dádiva dos céus. errado- o verbo provir se conjuga do mesmo modo que "vir", o qual recebe, em orações subordinadas, a forma "proviesse".
e) Tomados que foram de estranha letargia, não se deram conta os guardas do sumiço do objeto.-correto
Recolheria: futuro do pretérito. Utiliza-se este tempo verbal para exprimir um fato posterior, em relação a um fato passado (Ex: eu recolheria o jogo, se não estivesse cansado); exprimir uma incerteza (Estaria o homem certo?); no lugar do presente do indicativo ou do imperativo quando se faz um pedido (Você me faria um favor?).
Logo, não é possível utilizar futuro do pretérito + tempo composto formado a partir do futuro do presente do indicativo, tendo em vista os comentários acima.
b) Os policiais acabarão por aderir aos moradores, uma vez que seu comandante fosse oriundo daquele lugar.
A frase menciona fato passado, portanto, impossível utilizar o verbo no futuro (acabarão). Ademais, "fosse" corresponde ao subjuntivo do verbo "ser". O subjuntivo expressa dúvida ou hipótese, o que não se coaduna com a assertiva, visto que há certeza que o comandante é oriundo daquele lugar. Quando há certeza, utiliza-se o indicativo: "era" oriundo daquele lugar.
c) Quem chegar perto da coisa viria a ser fulminado, fosse uma pessoa de mau-caráter.
A frase indica hipótese. Se há hipótese, deve ser utilizado o subjuntivo: "Quem chegasse perto da coisa...".
d) Se daquele objeto proveio algum mal, ele não seria considerado uma dádiva dos céus.
"proveio" está pretérito perfeito do indicativo, significa que há certeza acerca de um fato concluído em relação ao momento em que se fala. Como a assertiva não expressa certeza, mas hipótese, deve ser utilizado o subjuntivo: "Se daquele objeto proviesse algum mal, ele não seria considerado uma dádiva dos céus".
e) Tomados que foram de estranha letargia, não se deram conta os guardas do sumiço do objeto.
Foram: pretérito perfeito do indicativo. Expressa ideia de certeza em relação a um fato passado já concluído. Dera: pretérito perfeito do indicativo. Novamente, expressa ideia de certeza em relação a um fato passado já conclido.
a) O certo seria se o verbo RECOLHERIA tivesse concordando com o verbo TERIA, e também se o verbo TERÁ tivesse concordando com RECOLHERÁ;
b) O certo seria se o verbo ACABARÃO tivesse concordando com IRÁ SER, e também se o verbo FOSSE tivesse concordando com SE OS POLICIAIS ACABASSEM;
c) O certo seria se o verbo VIRIA tivesse concordando com SERIA, e também se o verbo FOSSE tivesse concordando com VIESSE;
d) O certo seria se o verbo PROVEIO tivesse concordando com FOI, e também se o verbo SERIA tivesse concordando com PROVIRIA;
Então a questão ( e ) é a correta, pois o verbo FORAM concordou com DERAM.
Espero que tenham entendido irmãos. Um abraço!
- a) O fiscal recolheria a coisa misteriosa, mas terá sido obstado pelo juiz de paz, que declarava ser aquilo um bem da comunidade. Teria
- b) Os policiais acabarão por aderir aos moradores, uma vez que seu comandante fosse oriundo daquele lugar. Acabariam
- c) Quem chegar perto da coisa viria a ser fulminado, fosse uma pessoa de mau-caráter. Chegasse
- d) Se daquele objeto proveio algum mal, ele não seria considerado uma dádiva dos céus. Proviesse
- e) Tomados que foram de estranha letargia, não se deram conta os guardas do sumiço do objeto. Resposta da questão
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