Considerando o fragmento abaixo: “Eu resistir o quanto pude...

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Q813924 Português

                                 Grudados no Facebook

      Eu resistir o quanto pude, mas acabei sucumbindo no ano passado, por necessidade profissional e também para “conhecer o inimigo”, já que meus filhos inevitavelmente usariam a plataforma.

      Logo em um dos primeiros posts, uma provocação aos jovens chamada “Você quer mesmo ser cientista?”, descobri o poder do Facebook: através de compartilhamentos, foram centenas de curtidas em um dia só – e eu me descobrir grudada na tela, acompanhando as curtidas e os comentários que chegavam.

      Por que o Facebook tem o poder de transfixar o usuário em sua frente? Um grupo de neurocientistas alemães suspeitou que a resposta estivesse no retorno positivo que a plataforma oferece por meio das curtidas públicas aos posts de usuários.

      As curtidas servem como uma indicação reputação social do usuário, e ter boa reputação é algo valioso por aumentar a chance de ser alvo de boa vontade e cooperação dos outros.

      Mas nem sequer é preciso pensar a respeito para apreciar o valor da boa reputação: descobrir que gostam da gente ou receber outras formas de avaliação positiva são estímulos fortes para o estriado ventral, estrutura do sistema de recompensa do cérebro que nos premia com uma sensação de prazer quando algo positivo acontece. Mais tarde, a lembrança desse reforço positivo serve como uma motivação para repetir o que deu certo – e assim a causa de boa reputação se afirma.

      Os pesquisadores da Universidade Livre de Berlim examinaram a relação entre a intensidade de uso da plataforma e a sensibilidade do cérebro dos usuários a recompensas de dois tipos: monetárias e sociais.

      O resultado foi uma correlação clara entre a intensidade com que o estriado ventral de cada voluntário respondia a avaliações sociais positivas de boa reputação, na forma de adjetivos associados à sua pessoa, e a frequência de uso do Facebook por cada voluntário. A sensibilidade a retorno monetário não importa: aqueles que mais usam a plataforma são as pessoas que sentem mais prazer em ser avaliadas positivamente pelos outros.

      A descoberta explica por que o Facebook é um sistema tão poderoso quanto um videogame: justamente por que funciona como um videogame, onde você aperta alguns botões e descobre imediatamente, pelas opiniões dos outros, se o resultado foi positivo. Como esse é um videogame de adultos que se leva no bolso, é difícil resistir a “jogar” o tempo todo...

                    SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ

                                    e apresentadora do programa Cerebrando (cerebrando.net).

                                                                                      (Folha de S. Paulo, 01/04/2017.)

Considerando o fragmento abaixo:

“Eu resistir o quanto pude, mas acabei sucumbindo no ano passado, por necessidade profissional e também para “conhecer o inimigo”, já que meus filhos inevitavelmente usariam essa plataforma.”

A expressão coesiva destacada estabelece uma noção de:

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