O termo sublinhado em “[...] e essas pessoas tão distantes a...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de São João Nepomuceno - MG
Provas:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de São João Nepomuceno - MG - Atendente de Saúde
|
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de São João Nepomuceno - MG - Auxiliar de Saúde Bucal |
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de São João Nepomuceno - MG - Operador de Máquina |
Q3070426
Português
Texto associado
Distância
Em uma cidade há um milhão e meio de pessoas; em outra há outros milhões: e as cidades são tão longe uma de outra
que nesta é inverno quando naquela é verão. Em cada uma dessas cidades há uma pessoa; e essas duas pessoas tão distantes
acaso pensareis que podem cultivar em segredo como plantinha de estufa, um amor à distância?
Andam em ruas tão diferentes e passam o dia falando línguas diversas; cada uma tem em torno de si uma presença constante
e inumerável de olhos, vozes, notícias. Não se telefonam nunca; é tão caro, e além disso, que se diriam? Escrevem-se. Mas uma
carta leva dias para chegar; ainda que venha vibrando, cálida, cheia de sentimento, quem sabe se no momento em que é lida
já não poderia ter sido escrita? A carta não diz o que a outra pessoa está sentindo, diz o que sentia, na semana passada... e as
semanas passam de maneira assustadora, os domingos se precipitam mal começam as noites de sábado, as segundas retornam
com veemência gritando –– “outra semana!” –– e as quartas já têm um gosto de sexta, e o abril de-já-hoje quando se viu era
mudado em agosto.
Sim, há uma frase na carta cheia de calor, cheia de luz, mas a vida presente é traiçoeira e os astrônomos não dizem que
muita vezes ficamos como patetas a ver uma linda estrela jurando pela sua existência –– e no entanto há séculos ela se apagou
na escuridão do caos, sua luz é que custou a fazer a viagem? Direis que não importa a estrela em si mesma, e sim a luz que ela
nos manda –– e eu vos direi: amai para entendê-las!
Ao que ama o que lhe importa não é a luz nem o som, é a própria pessoa amada mesma, o seu vero cabelo, e o vero pelo,
o osso de seu joelho, sua terna e úmida presença carnal, o imediato calor; é o de hoje, a agora, o aqui –– e isso não há.
Então a outra pessoa vira retratinho do bolso, borboleta perdida no ar, brisa que a testa recebe na esquina, tudo o que for
eco, sombra, imagem, nada, um pequeno fantasma, e nada mais. E a vida de todo dia vai gastando insensivelmente a outra
pessoa, hoje lhe tira um modesto fio de cabelo, amanhã apenas passa a unha de leve fazendo um traço branco na sua coxa
queimada pelo sol, de súbito a outra pessoa entra em fading um sábado inteiro, está se gastando, perdendo seu poder emissor
à distância.
Cuidais amar uma pessoa, e ao fim vosso amor é um maço de papéis escritos no fundo de uma gaveta que se abre cada
vez menos...
Não ameis à distância, não ameis, não ameis!
(BRAGA, Rubem. Disponível em: https://www.pensador.com/textos_de_rubem_braga/ Acesso em: outubro de 2024. Adaptado.)
O termo sublinhado em “[...] e essas pessoas tão distantes acaso pensareis que podem cultivar em segredo, como plantinha
de estufa, [...]” (1º§) expressa sentido de: