Uma redação alternativa para a frase Os pintores, se ainda...
Grave e solitário, o tronco vive num estado de impermeabilidade ao som, a que os humanos só atingem por alguns instantes e através da tragédia clássica. Não logramos comovê-lo, comunicar-lhe nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo à nossa domesticidade, consideramo-lo um elemento da paisagem, e pintamo-lo. Ele pende, lápis ou óleo, de nossa parede, mas esse artifício não nos ilude, não incorpora a árvore à atmosfera de nossos cuidados. O fumo dos cigarros, subindo até o quadro, parece vagamente aborrecê-la, e certas árvores de Van Gogh, na sua crispação, têm algo de protesto.
De resto, o homem vai renunciando a esse processo de captura da árvore através da arte. Uma revista de vanguarda reúne algumas dessas representações, desde uma tapeçaria persa do século IV, onde aparece a palmeira heráldica, até Chirico, o criador da árvore genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título: Decadência da Árvore. Vemos através desse documentário que num Claude Lorrain da Pinacoteca de Munique, Paisagem com Caça, a árvore colossal domina todo o quadro, e a confusão de homens, cães e animal acuado constitui um incidente mínimo, decorativo. Já em Picasso a árvore se torna raríssima, e a aventura humana seduz mais o pintor do que o fundo natural em que ela se desenvolve.
O que será talvez um traço da arte moderna, assinala- do por Apollinaire, ao escrever: "Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais observadas ou reconstituídas pelo estudo... Se o fim da pintura continua a ser, como sempre foi, o prazer dos olhos, hoje pedimos ao amador que procure tirar dela um prazer diferente do proporcionado pelo espetáculo das coisas naturais". Renunciamos assim às árvores, ou nos permitimos fabricá-las à feição dos nossos sonhos, que elas, polidamente, se permitem ignorar.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. "A árvore e o homem", em Passeios na Ilha, Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 7-8)
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Os pintores, se ainda observam a natureza,
Embora tem mesmo sentido de ainda
não mais imitam a natureza,
já não a imitam
de maneira que se acautelam da reprodução de cenas naturais...
evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais...
Acautelar e cuidadosamente tem mesmo sentido.
Gabarito letra C
Discordo, ''se ainda'' não garante que eles de fato observem, já o ''embora'' deixa isso claro.
Gabarito C
Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais...
Acredito que a banca tenha considerado "se ainda" como conjunção concessiva. Para substituir, devemos trocar pela conjunção de mesmo sentido.
a) se- conjunção condicional, uma vez que- conjunção causal
b) por mais que- conjunção concessiva
C) muito embora - conjunção concessiva, ainda- conjunção concessiva
d) quando- conjunção condicional, de modo - conjunção consecultiva
e) embora- conjunção concessiva, nem- conjunção aditiva
Em se ainda observam a natureza, o se não condiciona, mas sim constata/reconhece o foto de os pintores ainda observarem a natureza. Portanto, fica claro que o trecho se ainda observam a natureza exerce função de conjunção concessiva, à medida que primeiro constata/reconhece que os pintores observam a natureza e em seguida defende a tese de que: já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais... Logo, mantém a correção gramatical e o sentido principal de uma ideia de concessão alterando para a frase da alternativa c, pois ela substitui a conjunção concessiva se ainda pela conjunção concessiva muito embora, além de substituir corretamente os demais trechos que não proporcionaram divergência de entendimento aos nobres colegas como o trecho da conjunção.
Minha duvida era justamente no acautelar.
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