Nos textos 3 e 5 são expostas reações decorrentes da se...
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Ano: 2015
Banca:
PR-4 UFRJ
Órgão:
UFRJ
Provas:
PR-4 UFRJ - 2015 - UFRJ - Auxiliar em Administração - Atividades Culturais de Divulgação Científica
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PR-4 UFRJ - 2015 - UFRJ - Auxiliar em Administração - Biblioteca |
Q502206
Português
Texto associado
TEXTO 3
BANDEIRA BRANCA, BANDEIRAS VERDES
Ana Maria Machado
Para mim, pensar em águas é pensar em mata. Nasci no bairro carioca de Santa Teresa, encravado na Floresta da Tijuca. Cresci íntima da Mata Atlântica na serra fluminense (meus avós paternos moravam em Petrópolis) e no vale do Rio Doce (meus avós maternos eram capixabas). Não consigo deixar de ligar arvoredo e umidade, fios d'água, cachoeirinhas. Ou de relacionar falta de chuva com falta de mata.
Não sou técnica no assunto, mas diante da seca que nos assola, é inevitável examinar o desequilíbrio climático relacionado a fatores ambientais. Então tento me informar. Descubro que o desmatamento voltou a crescer no Brasil após ter caído durante dez anos. Leio que a polícia descobriu que grande parte dos incêndios na serra fluminense tem origem proposital — sejam criminosos para especulação imobiliária, sejam ignorantes para fazer pastagem ou roçado. Têm a ver com modelos econômicos perversos e educação inexistente.
A redução da proteção às matas ciliares deixa rastros: rio precisa ter corredor de árvores às suas margens. A largura desse corredor não pode ser objeto de troca em votações no Congresso. É muito bom ter campos plantados, produzindo e exportando alimento. Mas há que se atentar para a proteção do delicado equilíbrio ecológico do cerrado, onde nasce grande parte dos riachos que irão formar as principais bacias brasileiras — a amazônica correndo para o norte, a do Prata para o sul, a do São Francisco que atravessa Minas e Bahia em busca do nordeste.
Os jornais dão notícia de um horror inimaginável: na atual estiagem, secou uma nascente do São
Francisco — tradicionalmente chamado Rio da Unidade Nacional. A causa não é a inexistência de unidade nacional. Mas de umidade natural. O pesadelo está ligado à falta de consciência ambiental. Não há por que evitar o termo “racionamento" por sua conotação negativa ou só se preocupar com os
vazamentos de depoimentos sobre corrupção, e esquecer os dos canos que desperdiçam água. Há que olhar a situação de frente. Poupar água, incentivar seu reúso. Planejar a recuperação de rios, ter projetos de fortalecimento das bacias. Se a hora é de fazer pontes, que sejam sobre as águas e não sobre leitos secos.
O Globo, 01, nov.2014
TEXTO 5
Guimarães Rosa
[...] Dava alegria, a gente ver o regato botar espuma e oferecer suas claras friagens, e a gente pensar no que era o valor daquilo. Um riachinho xexe, puro, ensombrado, determinado no fino, com rogojeio e suazinha algazarra – ah, esse não se economizava: de primeira, a água, pra se beber. Então, deduziram de fazer a Casa ali, traçando de se ajustar com a beira dele, num encosto fácil, com piso de lajes, a porta-da-cozinha, a bom de tudo que se carecia. Porém, estrito ao cabo de um ano de lá se estar, e quando menos esperassem, o riachinho cessou.
Foi no meio duma noite, indo para a madrugada, todos estavam dormindo. Mas cada um sentiu, de repente, no coração, o estalo do silenciozinho que ele fez, a pontuda falta da toada, do barulhinho. Acordaram, se falaram. Até as crianças. Até os cachorros latiram. Aí, todos se levantaram, caçaram o
quintal, saíram com luz, para espiar o que não havia. Foram pela porta-da-cozinha. Manuelzão adiante, os cachorros sempre latindo. – “Ele perdeu o chio..." Triste duma certeza: cada vez mais fundo, mais longe nos silêncios, ele tinha ido s'embora, o riachinho de todos. Chegado na beirada, Manuelzão entrou, ainda molhou os pés, no fresco lameal. Manuelzão, segurando a tocha de cera de carnaúba, o peito batendo com um estranhado diferente, ele se debruçou e esclareceu. Ainda viu o derradeiro fapo d'água escorrer, estilar, cair degrau de altura de palmo a derradeira gota, o bilbo. E o que a tocha na mão de Manuelzão mais alumiou: que todos tremiam mágoa nos olhos. Ainda esperaram ali, sem sensatez; por fim se avistou no céu a estrela-d'alva. O riacho soluço se estancara, sem resto e talvez para sempre. Secara-se a lagrimal, sua boquinha serrana. Era como se um menino sozinho tivesse morrido.
ROSA, Guimarães.Corpo de baile. 3.ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2010, p. 169-170.
BANDEIRA BRANCA, BANDEIRAS VERDES
Ana Maria Machado
Para mim, pensar em águas é pensar em mata. Nasci no bairro carioca de Santa Teresa, encravado na Floresta da Tijuca. Cresci íntima da Mata Atlântica na serra fluminense (meus avós paternos moravam em Petrópolis) e no vale do Rio Doce (meus avós maternos eram capixabas). Não consigo deixar de ligar arvoredo e umidade, fios d'água, cachoeirinhas. Ou de relacionar falta de chuva com falta de mata.
Não sou técnica no assunto, mas diante da seca que nos assola, é inevitável examinar o desequilíbrio climático relacionado a fatores ambientais. Então tento me informar. Descubro que o desmatamento voltou a crescer no Brasil após ter caído durante dez anos. Leio que a polícia descobriu que grande parte dos incêndios na serra fluminense tem origem proposital — sejam criminosos para especulação imobiliária, sejam ignorantes para fazer pastagem ou roçado. Têm a ver com modelos econômicos perversos e educação inexistente.
A redução da proteção às matas ciliares deixa rastros: rio precisa ter corredor de árvores às suas margens. A largura desse corredor não pode ser objeto de troca em votações no Congresso. É muito bom ter campos plantados, produzindo e exportando alimento. Mas há que se atentar para a proteção do delicado equilíbrio ecológico do cerrado, onde nasce grande parte dos riachos que irão formar as principais bacias brasileiras — a amazônica correndo para o norte, a do Prata para o sul, a do São Francisco que atravessa Minas e Bahia em busca do nordeste.
Os jornais dão notícia de um horror inimaginável: na atual estiagem, secou uma nascente do São
Francisco — tradicionalmente chamado Rio da Unidade Nacional. A causa não é a inexistência de unidade nacional. Mas de umidade natural. O pesadelo está ligado à falta de consciência ambiental. Não há por que evitar o termo “racionamento" por sua conotação negativa ou só se preocupar com os
vazamentos de depoimentos sobre corrupção, e esquecer os dos canos que desperdiçam água. Há que olhar a situação de frente. Poupar água, incentivar seu reúso. Planejar a recuperação de rios, ter projetos de fortalecimento das bacias. Se a hora é de fazer pontes, que sejam sobre as águas e não sobre leitos secos.
O Globo, 01, nov.2014
TEXTO 5
Guimarães Rosa
[...] Dava alegria, a gente ver o regato botar espuma e oferecer suas claras friagens, e a gente pensar no que era o valor daquilo. Um riachinho xexe, puro, ensombrado, determinado no fino, com rogojeio e suazinha algazarra – ah, esse não se economizava: de primeira, a água, pra se beber. Então, deduziram de fazer a Casa ali, traçando de se ajustar com a beira dele, num encosto fácil, com piso de lajes, a porta-da-cozinha, a bom de tudo que se carecia. Porém, estrito ao cabo de um ano de lá se estar, e quando menos esperassem, o riachinho cessou.
Foi no meio duma noite, indo para a madrugada, todos estavam dormindo. Mas cada um sentiu, de repente, no coração, o estalo do silenciozinho que ele fez, a pontuda falta da toada, do barulhinho. Acordaram, se falaram. Até as crianças. Até os cachorros latiram. Aí, todos se levantaram, caçaram o
quintal, saíram com luz, para espiar o que não havia. Foram pela porta-da-cozinha. Manuelzão adiante, os cachorros sempre latindo. – “Ele perdeu o chio..." Triste duma certeza: cada vez mais fundo, mais longe nos silêncios, ele tinha ido s'embora, o riachinho de todos. Chegado na beirada, Manuelzão entrou, ainda molhou os pés, no fresco lameal. Manuelzão, segurando a tocha de cera de carnaúba, o peito batendo com um estranhado diferente, ele se debruçou e esclareceu. Ainda viu o derradeiro fapo d'água escorrer, estilar, cair degrau de altura de palmo a derradeira gota, o bilbo. E o que a tocha na mão de Manuelzão mais alumiou: que todos tremiam mágoa nos olhos. Ainda esperaram ali, sem sensatez; por fim se avistou no céu a estrela-d'alva. O riacho soluço se estancara, sem resto e talvez para sempre. Secara-se a lagrimal, sua boquinha serrana. Era como se um menino sozinho tivesse morrido.
ROSA, Guimarães.Corpo de baile. 3.ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2010, p. 169-170.
Nos textos 3 e 5 são expostas reações decorrentes da seca de uma nascente do São Francisco e de um riachinho.
Indique que sentimentos envolvem essas reações, nos textos 3 e 5, respectivamente:
Indique que sentimentos envolvem essas reações, nos textos 3 e 5, respectivamente: