Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da constru...

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Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: EMSERH Prova: FUNCAB - 2016 - EMSERH - Assistente Social |
Q630107 Português

                            O embondeiro que sonhava pássaros

      Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro.

      Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas:

      - Mãe, olha o homem dos passarinheiros!

      E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava.

      Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais se agravavam: estava dito.

      Mas aquela ordem pouco seria desempenhada.

      [...]

      O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das senhoras e seus filhos. 6 remédio, enfim, se haveria de pensar.

      No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão. Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si:

      - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora.

      Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os mais extensos matos?

      O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam.

      Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia saber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo. [...]

      As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes aparentes. [...]

      Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras.

COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contosl Mia Couto - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. (Fragmento). 

Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da construção linguísticas:

I. Atentando para o uso do sinal indicativo de crase, o A no pronome AQUELA, em todas as ocorrências no segmento “Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra.”, deveria ser acentuado.

II. Nas frases “O REMÉDIO, enfim, se haveria de pensar."/ "desdobrando-se em outras felizes EXISTÊNCIAS”, as palavras destacadas são acentuadas obedecendo à mesma regra de acentuação.

III. Na frase " - ESSES são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora.”, o elemento destacado exerce função anafórica, exprimindo relação coesiva referencial.

Está correto apenas o que se afirma em:

Alternativas

Comentários

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Gab: D - estão corretas II e III

II - paroxítonas terminadas em ditongo

III - termo anafórico é aquele que se refere a um termo já dito ("aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas.")

Essa eu já sabia a resposta porque fiz uma questão igual da banca FCC. Eu hein!...

Correta a resposta do Rodrigo Cruz. Ademais, poderia até chutar verificando as opções mais sobressalentes.
Mas é bom ter cuidado com esses tipos de chute.

REMÉDIO E EXISTÊNCIAS = PROPAROXÍTONAS

ESSES = REFERE-SE A PÁSSAROS 

FUNÇÃO ANAFÓRICA A reativação do referente em um texto é realizada por meio da referenciação anafórica ou catafórica, formando­se cadeias coesivas mais ou menos longas. A remissão anafórica (para trás) realiza­se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os demais pronomes e também por numerais, advérbios e artigos. Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz. Explicação: O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera o termo Pedro; aquele, o termo André; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro time ­ são anafóricos. Dêixis Anafórica: Um pronome com dêixis anafórica (função anafórica) aponta para um elemento que foi dito ao longo da frase, e que pode ser encontrado através de coesão textual.

 

GABARITO "D"

BONS ESTUDOS

São chamados de pronomes anafóricos aqueles que estabelecem uma referência dependente com um termo antecedente, é uma palavra herdada do grego “anaphorá” e do latim “anaphora”.

 

Designa-se ANÁFORA (não confundir com a figura de linguagem de mesmo nome) o termo ou expressão que, em um texto ou discurso, faz referência direta ou indireta a um termo anterior. O termo anafórico retoma um termo anterior, total ou parcialmente, de modo que, para compreendê-lo dependemos do termo antecedente.

 

Vejamos alguns exemplos de ANÁFORA:

 

João está doente. Vi-o na semana passada.

(pronome “o” retoma o termo “João”.)

 

Ana comprou um cão. O animal já conhece todos os cantos da casa.

(o termo “o animal” faz referência ao termo antecedente “o cão”)

 

A sala de aula está degradada. As carteiras estão todas riscadas.

(O termo “as carteiras” é compreendido mediante a compreensão do termo anterior “sala de aula”)

 

Maria é uma moça tão bonita que assusta. Essa sua beleza tem um quê de mistério.

(o pronome “essa” faz referência à beleza de Maria, ideia que se encontra implícita no enunciado anterior.)

 

Por sua vez, os pronomes catafóricos são aqueles que fazem referência a um termo subsequente, estabelecendo com ele uma relação não autônoma, portanto, dependente. Para compreender um termo catafórico é necessário interpretar o termo ao qual faz referência.

Vejamos alguns exemplos de CATÁFORA:

 

A irmã olhou-o e disse: - João, estás com um ar cansado.

(O pronome “o” faz referência ao termo subsequente “João”, de modo que só se pode compreender a quem o pronome se refere quando se chega ao termo de referência.)

 

Os nomes próprios mais utilizados na língua portuguesa são estes: João, Maria e José.

(Neste caso o pronome “estes” faz referência aos termos imediatamente seguintes “João, Maria e José”.)

Podemos dizer que a catáfora é um tipo de anáfora, pois estabelece os mesmos tipos de relação coesiva entres os termos, porém o termo anafórico se encontra antes do termo referente, acontecendo exatamente o contrário nas demais tipos de anáforas.

 

QUESTÃO: Na questão o termo esses, apesar de explicitado por um termo posterior, pássaros, remete a uma ideia já constante do texto: "aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas".

 

FONTE: http://www.infoescola.com/portugues/anafora-e-catafora/

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