Acerca do bem e do mal   Fulano é “do bem”, Sicrano é “do ma...

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Ano: 2006 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-SP
Q1224659 Português
Acerca do bem e do mal 
  Fulano é “do bem”, Sicrano é “do mal”. Não, não são crianças comentando um filme de mocinho e bandido; são frases de adultos, reiteradas a propósito das mais diferentes pessoas, nas mais diversas situações. O julgamento definitivo e em preto e branco que elas implicam parece traduzir o esforço de adotar, em meio ao caldeirão de valores da sociedade moderna, um princípio básico de qualificação moral e ética. Essa oposição rudimentar revela a necessidade que temos de estabelecer algum juízo de valor para a orientação da nossa própria conduta. Tal busca de discernimento é antiga, e em princípio é legítima: está na base de todas as culturas, dá sustentação a religiões e inspira ideologias, provoca os filósofos, os juristas, os políticos. O perigo está em que o movimento de busca cesse e dê lugar à paralisia dos valores estratificados.
  O exemplo pode vir de cima: quando um chefe de poderosa nação passa a classificar países inteiros como integrantes do “eixo do mal”, está-se proclamando como representante dos que constituiriam o “eixo do bem”. Essa divisão tosca é, de fato, muito conveniente, pois faculta ao mais forte a iniciativa de intervir na vida e no espaço do mais fraco, sob a alegação de que o faz para preservar os chamados “valores fundamentais da humanidade”. Interesses estratégicos e econômicos são, assim, mascarados pela suposta preservação de princípios da civilização. A História já nos mostrou, sobejamente, a que levam tais ideologias absolutistas, que se atribuem o direito de julgar o outro segundo o critério da religião que este professa, do regime político que adota, da etnia a que pertence. A intolerância em relação às diferenças culturais, por exemplo, acaba levando o mais forte à subjugação das pessoas “diferentes” – e mais fracas. É quando a ética sai de cena, para dar lugar à barbárie.   A busca de distinção entre o que é “do bem” e o que é “do mal” traz consigo um dilema: por um lado, não podemos dispensar alguma bússola de orientação ética e moral, que aponte para o que parece ser o justo, o correto, o desejável; por outro lado, se o norteamento dos nossos juízos for inflexível como o teimoso ponteiro, comprometemos de vez a dinâmica que é própria da história e dos valores humanos. Não há, na rota da civilização, leis eternas, constituições que não admitam revisões, costumes inalteráveis. A escolha do critério de julgamento é sempre crítica e sofrida, quando responsável; dispensando-se, porém, a responsabilidade dessa escolha, restará a terrível fatalidade dos dogmas. Lembrando o instigante paradoxo de um filósofo francês, “estamos condenados a ser livres”. Nessa compulsória liberdade, de que fala o filósofo, a escolha entre o que é “do bem” e o que é “do mal” é uma questão sempre viva, que merece ser analisada e enfrentada em suas particulares manifestações históricas. Se assim não for, estará garantido um espaço cada vez maior para a ação dos fundamentalistas de todo tipo.  (Cândido Otoniel de Almeida)
É quando a ética sai de cena, para dar lugar à barbárie. 
Na frase acima, a seqüência das ações sai de cena e dar lugar estabelece uma relação
Alternativas

Gabarito comentado

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Ao analisarmos a expressão "É quando a ética sai de cena, para dar lugar à barbárie", identificamos uma relação de causalidade entre dois conceitos que são diametralmente opostos. A ética, entendida como o conjunto de normas e princípios que orientam o comportamento humano para o que é considerado correto e bom, é posta em contraste direto com a barbárie, que remete a comportamentos desprovidos de civilidade e moralidade.

Essa contraposição sugere que a ausência de um elemento, neste caso, a ética, leva inevitavelmente ao surgimento ou ao fortalecimento do outro, a barbárie. Portanto, o espaço deixado pela ética é imediatamente preenchido pela barbárie, demonstrando uma conexão direta e inequívoca de causa e efeito.

Compreender essa dinâmica é crucial, pois ela reflete a importância de mantermos princípios éticos em nossa sociedade, evitando assim o avanço de ações e comportamentos que nos remetam à barbárie. Erros comuns incluem não perceber essa relação direta e interpretar a frase como se estabelecesse outro tipo de conexão, como alternância, justaposição ou simultaneidade, o que não corresponde ao sentido proposto.

O gabarito desta questão é a alternativa A, que indica uma relação de causalidade entre valores antagônicos, ou seja, a ética e a barbárie. A ética, quando presente, suprime a barbárie, mas quando se retira, permite que a barbárie se manifeste.

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