Há relação de causa (1) e consequência (2) entre os segment...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2009
Banca:
FCC
Órgão:
TRE-PI
Provas:
FCC - 2009 - TRE-PI - Analista Judiciário - Taquigrafia
|
FCC - 2009 - TRE-PI - Analista Judiciário - Odontologia |
Q2806929
Português
Texto associado
Não é usual tratar da política na perspectiva da
afirmação da verdade. Platão afirmou, na República, que a
verdade merece ser estimada sobre todas as coisas, mas
ressalvou que há circunstâncias em que a mentira pode ser útil,
e não odiosa. Na política, a derrogação da verdade pela
aceitação da mentira muito deve à clássica tradição do realismo
que identifica no predomínio do conflito o cerne dos fatos
políticos. Esta tradição trabalha a ação política como uma ação
estratégica que requer, sem idealismos, uma praxiologia, vendo
na realidade resistência e no poder, hostilidade. Neste contexto,
política é guerra e, como diz o provérbio, "em tempos de guerra,
mentiras por mar, mentiras por terra".
Recorrendo a metáforas do reino animal, Maquiavel
aponta que o príncipe precisa ter, ao mesmo tempo, no
exercício realista do poder, a força do leão e a astúcia ardilosa
da raposa. Raposa, leão, assim como camaleão, serpente,
polvo – metáforas que frequentemente são utilizadas na
descrição de políticos – não podem, com propriedade,
caracterizar o ser humano moral que obedece aos consagrados
preceitos do "não matar" e do "não mentir", como lembra
Norberto Bobbio.
Recorrendo a metáforas do reino animal, Maquiavel
aponta que o príncipe precisa ter, ao mesmo tempo, no
exercício realista do poder, a força do leão e a astúcia ardilosa
da raposa. Raposa, leão, assim como camaleão, serpente,
polvo – metáforas que frequentemente são utilizadas na
descrição de políticos – não podem, com propriedade,
caracterizar o ser humano moral que obedece aos consagrados
preceitos do "não matar" e do "não mentir", como lembra
Norberto Bobbio.
Sustentar a simulação e a mentira como expedientes
usuais na arena política é desconhecer a importância
estratégica que a confiança desempenha na pluralidade da
interação humana democrática. A confiança requer a boa-fé que
pressupõe a veracidade. O Talmude equipara a mentira à pior
forma de roubo: "Existem sete classes de ladrões e a primeira é
a daqueles que roubam a mente de seus semelhantes através
de palavras mentirosas." O padre Antônio Vieira afirmou que a
verdade é filha da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é
seu, ao contrário da mentira, porque esta "ou vos tira o que
tendes ou vos dá o que não tendes". Montaigne observou que
somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos.
Por isso mentir é um vício maldito. Impede o entendimento.
(Celso Lafer. O Estado de S. Paulo, A2, 20 de julho de 2008,
com adaptações)
Há relação de causa (1) e consequência (2) entre os segmentos transcritos, EXCETO: