Considerando-se o personagem sr. K, é verdadeiro dizer que:
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Q2281178
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O texto a seguir deve ser considerado para a
resposta a questão.
Se os tubarões fossem homens
“Se os tubarões fossem homens”, perguntou
ao sr. K. a filha da sua senhoria, “eles seriam mais
amáveis com os peixinhos?” “Certamente”, disse
ele. “Se os tubarões fossem homens, construiriam
no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos,
com todo tipo de alimento, tanto animal como
vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem
sempre água fresca, e tomariam toda espécie de
medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho
ferisse a barbatana, então lhe fariam imediatamente um curativo, para que ele não lhes morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem
melancólicos, haveria grandes festas aquáticas
de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm
melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas
os peixinhos aprenderiam como nadar em direção
às goelas dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões
que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais
importante seria, naturalmente, a formação moral
dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada
existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam
crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que
cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que esse futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos
deveriam evitar toda inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista, e avisar imediatamente os
tubarões, se um dentre eles mostrasse tais tendências. Se os tubarões fossem homens, naturalmente
fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e
peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam
lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há
uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos
outros tubarões. Os peixinhos, eles iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em
línguas diferentes, e por isso não podem se entender. Cada peixinho que na guerra matasse alguns
outros, inimigos, que silenciam em outra língua,
seria condecorado com uma pequena medalha de
sargaço e receberia o título de herói. Se os tubarões
fossem homens, naturalmente haveria também arte
entre eles. Haveria belos quadros, representando os
dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente.
Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos
peixinhos nadando com entusiasmo em direção às
goelas dos tubarões, e a música seria tão bela, que
a seus acordes todos os peixinhos, com a orquestra na frente, sonhando, embalados nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos
tubarões. Também não faltaria uma religião, se os
tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões. Além disso, se os tubarões fossem
homens também acabaria a ideia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam
funcionários e seriam colocados acima dos outros.
Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive
comer os menores. Isto seria agradável para os tubarões, pois eles teriam, com maior frequência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores,
detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os
peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens.”.
BRECHT, Bertolt. Se os tubarões fossem homens.
In: _____. Histórias do sr. Keuner. Tradução de Paulo
César de Souza. São Paulo: Ed. 34. 2008.
Considerando-se o personagem sr. K, é verdadeiro
dizer que: