No início do texto, o autor diz aos leitores que está “escre...
Veríssimo, O Globo, 08/09/2013
Estou escrevendo sem saber se já atacaram a Síria. O que dá para saber sem esperar os fatos é que, mais uma vez, as Nações Unidas não tiveram nada a ver com o assunto. A ONU é um monumento aos melhores sentimentos humanos e ao mesmo tempo uma prova de como os bons sentimentos pouco podem, portanto um monumento à inconsequência.
O fracasso da ONU na sua missão mais importante, que é evitar as guerras, torna as suas mil e uma utilidades supér? uas. Pouca gente sabe tudo que a ONU faz nos campos da saúde, da agricultura, dos direitos humanos etc., como pouca gente sabia que a Liga das Nações, sua precursora, também promovia cooperação técnica entre nações e programas sociais, além de tentar inutilmente manter a paz. O principal ideal que a ONU herdou da Liga foi a do debate substituindo a guerra, e a racionalidade superando as desavenças tribais. Nisso, suas únicas diferenças da Liga das Nações são que uma sobrevive à frustração que liquidou a outra e tem a adesão dos Estados Unidos, que a outra não tinha.
Apesar de o presidente americano durante a Primeira Guerra Mundial, Woodrow Wilson, ter sido um entusiasta da Liga que acabaria com todas as guerras, o Congresso americano rejeitou a participação dos Estados Unidos na organização, o que matou Wilson de desgosto. O Congresso aprovou a entrada do país na ONU depois da Segunda Guerra, mas a antipatia continuou. O desdém pela ONU ou por qualquer entidade supranacional é uma constante do conservadorismo americano. E, no entanto, a ONU já dura mais que o dobro que durou a Liga das Nações. Ela também é um monumento à perseverança sem nada que a justi? que.
Talvez se deva adotar a ONU como símbolo justamente dessa nsensata insistência, dessa inconsequência heroica. Com todas as suas contradições e frustrações, ela representa a teimosia da razão em existir num mundo que teima em desmoralizá-la. Pode persistir como uma cidadela do Bem, na falta de palavra menos vaporosa, nem que seja só pra gente ? ngir que acredita neles, na ONU e no Bem, porque a alternativa é a desistência. É aceitar que, ncapaz de vencer o desprezo e a prepotência dos que a desacreditam, a ideia de uma comunidade mundial esteja começando a sua segunda agonia.
A Liga das Nações durou até 1946, mas agonizou durante 20 sangrentos anos, até morrer de irrelevância. A ONU, depois de mais este fracasso, só terá levado mais tempo para se convencer de sua própria irrelevância.
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Interpretação do tema: A questão aborda a interpretação de um trecho de um texto opinativo, onde o autor expressa suas reflexões sobre a atuação da ONU em relação à guerra na Síria. A afirmação inicial do autor, “escrevendo sem saber se já atacaram a Síria”, é crucial para entender a intenção do texto.
Alternativa correta: A alternativa E destaca que o fato, ou não, do ataque à Síria não muda a imagem da ONU. Isso é evidente no texto, pois o autor critica a ONU independentemente da situação específica do ataque, evidenciando sua visão sobre a irrelevância da organização em evitar guerras.
Justificativa da alternativa correta: O autor utiliza essa afirmação para mostrar que sua análise não depende de eventos específicos, mas sim de uma crítica mais ampla à atuação da ONU. Ele argumenta que, independentemente dos fatos concretos, a imagem da organização já está comprometida pela sua ineficácia histórica em manter a paz.
Alternativas incorretas:
A - A alternativa A sugere que o cronista está distante dos acontecimentos, mas isso não é o foco principal da afirmação. O autor expressa sua desinformação momentânea, mas não indica uma distância geral dos fatos.
B - A alternativa B sugere que as posições do autor podem ser desmentidas pelos fatos. Contudo, o autor já apresenta uma crítica consolidada à ONU, que não depende de confirmação de eventos específicos.
C - A alternativa C afirma que se trata de um texto preditivo, mas o texto é mais reflexivo e crítico, e não um exercício de previsão de eventos futuros.
D - A alternativa D propõe que o autor contesta críticas apressadas, mas a intenção é mais de enfatizar a crítica à permanência da ONU, não de se defender de críticas.
Portanto, a única alternativa que melhor se alinha à intenção do autor e à mensagem central do texto é a E.
Conclusão: Ao interpretar textos, é essencial captar a essência da mensagem e o contexto em que ela é apresentada. Sempre busque entender como cada parte do texto se relaciona com as ideias principais. Isso não apenas auxilia na escolha da resposta correta em questões de interpretação, mas também proporciona uma compreensão mais profunda do conteúdo.
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Comentários
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Porque, no texto, o autor critica a ONU e consequentemente a sua imagem, mas ele faz isso independentemente de saber se a Siria foi atacada ou não.
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