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Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Instituto Rio Branco
Q1208264 Português
1 Distingo, no português histórico, dois períodos principais: o português antigo, que se escreveu até os primeiros anos do século XVI, e o português moderno. Robustecida e 4 enriquecida de expressões novas, a linguagem usada nas crônicas desse segundo período, que relatam os descobrimentos em África e Ásia e os feitos das armas 7 lusitanas no Oriente, culmina no apuro e no gosto do português moderno d’Os Lusíadas (1572). É o século da Renascença literária, e tudo quanto ao depois se escreve é a continuação da 10 linguagem desse período. E como não ficou estacionário o português moderno, denominou-se quinhentista, seiscentista, setecentista a linguagem própria a cada era. Reservo a 13 denominação de português hodierno para as mudanças características do falar atual criadas ou fixadas recentemente, ou recebidas do século XIX, ou que por ventura remontam ao 16 século XVIII.  Limites entre os diversos períodos não podem ser traçados com rigor. Ignoram-se a data ou o momento exato do 19 aparecimento de qualquer alteração linguística. Neste ponto, nunca será a linguagem escrita, dada a sua tendência conservadora, espelho fiel do que se passa na linguagem 22 falada. Surge a inovação, formulada acaso por um ou poucos indivíduos; se tem a dita de agradar, não tarda a generalizar-se o seu uso no falar do povo. A gente culta e de fina casta 25 repele-a, a princípio, mas, com o tempo, sucumbe ao contágio. Imita o vulgo, se não escrevendo com meditação, em todo o caso no trato familiar e falando espontaneamente. Decorrem 28 muitos anos, até que por fim a linguagem literária, não vendo razão para enjeitar o que todo o mundo diz, se decide a aceitar a mudança também. Tal é, a meu ver, a explicação não 31 somente de fatos isolados, mas ainda do aparecimento de todo o português moderno.  Não é de crer que poucos anos depois de 1500, quase 34 que bruscamente e sem influxo de idioma estranho, cessassem em Portugal inveterados hábitos de falar e se trocasse o português antigo em português moderno. Nem podemos 37 atribuir a escritores, por muito engenho artístico que tivessem, aptidões e autoridade para reformarem, a seu sabor, o idioma pátrio e sua gramática. Consistiria a sua obra antes em elevar 40 à categoria de linguagem literária o falar comum, principalmente o das pessoas educadas, tornando-o mais elegante e desterrando locuções que lhe dessem aspecto menos 43 nobre. Mas os escritores antigos evitavam afastar-se da prática recebida de seus avós e, posto que muitas concessões tivessem de fazer ao uso para serem entendidos, propendiam mais a 46 utilizar-se de recursos artificiais que dessem ao estilo certo ar de gravidade e acima do vulgar.  O século XVI, descerradas as cortinas que encobriam 49 o espetáculo de novos mundos, e dada a facilidade de pôr a leitura das obras literárias ao alcance de todos, graças ao desenvolvimento da imprensa, devia fazer cessar a superstição 52 do passado, mostrar o caminho do futuro e ditar a necessidade de se exprimirem os escritores em linguagem que todos entendessem. Resolveram-se a fazê-lo. Serviram-se da 55 linguagem viva de fato, como o demonstram os diálogos das comédias de então, que reproduzem o falar tradicional da gente do povo. Trariam estes diálogos os característicos gramaticais 58 do português antigo, se fosse este ainda o idioma corrente. 
M. Said Ali. Prólogo da Lexeologia do português histórico, 1.ª ed. 1921. In: Gramática histórica da língua portuguesa. 8.ª ed. rev. e atual. por Mário Eduardo Viaro. São Paulo: Companhia Melhoramentos; Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 2001, p. 17-8 (com adaptações)
Julgue (C ou E) o item a seguir, a respeito de elementos coesivos e do vocabulário do texto de M. Said Ali.
As formas verbais “sucumbe” (linha 25) e “desterrando” (linha 42), que poderiam ser corretamente substituídas, respectivamente, por não resiste e livrando-se de, foram assim empregadas no texto: a primeira, em sentido denotativo, e a segunda, em sentido conotativo.
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