A historiografia passou por grandes modificações metodológi...

Na análise da questão em foco, identificamos uma discussão sobre as transformações na área da historiografia, as quais expandiram as fronteiras metodológicas da disciplina. Tradicionalmente, a historiografia do início do século XX era caracterizada por sua ênfase nas instituições e nas elites, com uma atenção particular para a cronologia de fatos e datas. Este enfoque, que muitas vezes carecia de profundidade em termos de análise estrutural e conjuntural, é associado ao positivismo.

Em contraste, a nova abordagem historiográfica que emergiu na França, e que é o tema da questão, buscou revolucionar a prática de escrever história. Essa revolução metodológica foi caracterizada por incorporar elementos do cotidiano como fontes históricas válidas e relevantes, indo além das tradicionais narrativas focadas nas classes dominantes. Lucien Febvre e Marc Bloch foram os pioneiros e principais idealizadores desse movimento, que é conhecido como Escola dos Annales. A resposta correta para a questão é, portanto, a Alternativa A - Escola dos Annales.

A Escola dos Annales é reconhecida por sua abordagem inovadora, que valoriza as múltiplas dimensões da experiência humana, incluindo aspectos econômicos, sociais, culturais e até mesmo psicológicos. Com essa perspectiva mais ampla, a historiografia expandiu significativamente o seu alcance e a sua relevância, permitindo uma compreensão mais rica e diversificada do passado.

A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico que surgiu na França no início do século XX, revolucionando a forma como a História era escrita e estudada. Fundada pelos historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, com a criação da revista "Annales d'histoire économique et sociale", essa escola de pensamento propôs novas abordagens metodológicas para o estudo do passado, afastando-se do modelo tradicional centrado em eventos políticos e nas grandes figuras históricas.

Contexto e Críticas ao Modelo Tradicional

Até o início do século XX, a historiografia era dominada pelo que se chama de "história factual" ou "história positivista", que se concentrava em eventos políticos, militares, datas e personalidades. Era uma história das elites, escrita a partir de documentos oficiais, como decretos, tratados e correspondências de figuras poderosas. O foco era em uma narrativa linear dos acontecimentos, destacando grandes eventos como batalhas, descobertas e mudanças dinásticas.

No entanto, esse tipo de abordagem foi criticado por sua limitação metodológica e pela falta de profundidade em aspectos sociais, culturais e econômicos da sociedade. Não havia uma análise detalhada das estruturas sociais e das experiências cotidianas das pessoas comuns, nem uma preocupação com os fatores de longo prazo que moldavam as sociedades.

A Revolução dos Annales

A Escola dos Annales representou uma ruptura com essa abordagem. Inspirados por outras ciências sociais, como a sociologia, a geografia e a economia, os historiadores da escola propuseram um estudo mais interdisciplinar e multifacetado do passado. Entre os principais elementos trazidos pelos Annales, destacam-se:

  1. História Total: A proposta era analisar a sociedade em sua totalidade, considerando não apenas os eventos políticos, mas também aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais. A história deveria compreender as estruturas de longa duração, as conjunturas econômicas e as ações dos indivíduos.

  2. História do Cotidiano: Um dos legados mais marcantes da Escola dos Annales foi a valorização da vida cotidiana como objeto de estudo. A cultura popular, as mentalidades coletivas e as experiências de camponeses, trabalhadores e minorias começaram a ser consideradas fontes históricas relevantes. A micro-história e a história das mentalidades surgiram como campos de estudo influenciados por essa perspectiva.

  3. Novos Tipos de Fontes: Os Annales trouxeram uma nova visão sobre as fontes históricas, que passaram a incluir não apenas documentos oficiais, mas também registros orais, tradições populares, imagens, estatísticas e outros elementos que anteriormente eram desconsiderados pela historiografia tradicional. O objetivo era usar uma variedade maior de fontes para entender melhor a sociedade em todas as suas camadas.

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