De acordo com Bittencourt (2004), o Pensamento Sistêmico (PS...

Existe uma inadequação das ferramentas analíticas existentes para tratar os problemas organizacionais modernos, tendo em vista a complexidade dinâmica do mundo. Há um esgotamento do modelo mecanicista pela falência do arcabouço nele baseado. Logo, o PS possui um interesse em desafiar e contextualizar o pensamento mecanicista, da mesma forma como, analógica e contextualmente, o pensamento relativista de Einstein desafiou o pensamento Newtoniano. 

A Teoria de Sistemas – que nasceu na administração em 1961 – se solidificou como paradigma a partir da constatação de que, com os recursos se tornando escassos, seria vital uma mudança no contexto global, com atributos como inovação, flexibilidade, tempo de resposta e qualidade, tornando-se condições básicas para a sobrevivência organizacional. Porém a apropriação desses princípios do PS pelos praticantes organizacionais é mais recente, em função do processo de ampliação da percepção de que realmente existem outras forças inter-relacionadas influenciando na vida organizacional. 

Na Teoria das Organizações, o tema do PS aparece em alguns tópicos e por essa razão parece evidente – para quem o aborda – a compreensão sobre sua lógica e necessidade. Contudo, quando se tenta migrar para ações práticas, evidencia-se a dificuldade em saber como aplicá-lo. Quando gestores que trabalham em grandes organizações tentam inserir novas formas mais sistêmicas de operação, tais como o desenvolvimento conjunto de procedimentos, construção de um trabalho em equipe, práticas coerentes com a complexidade das demandas do ambiente, enfim condutas de integração sistêmica, encontram enormes obstáculos.

Existem diversos fatores relevantes na realidade que impedem a existência do PS em organizações. Uma delas é o fato de que o ser humano em seu processo de aprendizagem vai gradativamente perdendo a capacidade de compreensão sistêmica ao longo dos anos. No processo de socialização do conhecimento, o mundo vai se fracionando. Uma criança, por exemplo, desde a mais tenra idade tem embutido em sua aprendizagem que a Matemática é uma disciplina isolada, Química é outra, História é outra e que tudo isso não possui relação alguma com Literatura. Há, então, uma aprendizagem calcada na dissociação dos elementos focalizados separadamente. Isso explica em parte por que nas organizações se analisam problemas ou sistemas pela sua decomposição em partes e não de forma integrada.

Um dos facilitadores da implantação do PS em uma organização é a existência de uma estrutura de sustentação e ordenamento de preceitos calcados em elementos filosóficos embutidos no pensamento linear. Tais arcabouços organizacionais fundamentados nos paradigmas institucionais permitem a adoção de comportamentos essenciais de integração sistêmica consentindo assim, quando for o caso, no “descongelamento” integral de determinado tipo de padrão de comportamento mais fechado e moldado pela conjuntura tradicional. O PS se constitui, portanto, em uma perspectiva filosófica que fundamenta uma reflexão de como se deve desafiar o status quo, propiciando novos padrões na disposição estrutural.