Dentre os trechos relacionados, identifique aquele cuja ling...

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Q2087971 Português
Pregos

     Foi de repente. Dois quadros que tenho na parede da sala despencaram juntos. Ninguém os havia tocado, nenhuma ventania naquele dia, nenhuma obra no prédio, nenhuma rachadura. Simplesmente caíram, depois de terem permanecido seis anos inertes. Não consegui admitir essa gratuidade, fiquei procurando uma razão para a queda, haveria de ter uma.
    Poucos dias depois, numa dessas coincidências que não se explicam, estava lendo um livro do italiano Alessandro Baricco, chamado “Novecentos”, em que ele descrevia exatamente a mesma situação. “No silêncio mais absoluto, com tudo imóvel ao seu redor, nem sequer uma mosca se movendo, eles, zás. Não há uma causa. Por que precisamente neste instante? Não se sabe. Zás. O que ocorre a um prego para que decida que já não pode mais?”
     Alessandro Baricco não procura desvendar esse mistério, apenas diz que assim é. Um belo dia a gente se olha no espelho e descobre que está velho. A gente acorda de manhã e descobre que não ama mais uma pessoa. Um avião passa no céu e a gente descobre que não pode ficar parado onde está nem mais um minuto. Zás. Nossos pregos já não nos seguram.
      Costumamos chamar essa sensação de “cair a ficha”, mas acho bem mais poética e avassaladora a analogia com os quadros na parede. Cair a ficha é se dar conta. Deixar cair os quadros é um pouco mais que isso, é perder a resistência, é reconhecer que há algo que já não podemos suportar. Não precisa ser necessariamente uma carga negativa, pode ser uma carga positiva, mas que nos obriga a solicitar mais força dentro de nós.
      Nascemos, ficamos em pé, crescemos e a partir daí começamos a sustentar nossas inquietações, nossos desejos inconfessos, algum sofrimento silencioso e a enormidade da nossa paciência. Nossos pregos são feitos de material maciço, mas nunca se sabe quanto peso eles podem aguentar. O quanto podemos conosco? Uma boa definição para felicidade: ser leve para si mesmo.
      Sobre os meus quadros: foram recolocados na parede. Estão novamente fixos no mesmo lugar. Até que eles, ou eu, sejamos definitivamente vencidos pelo cansaço.
(Martha Medeiros. Mundo de Ideias. Em: julho de 2014. Adaptado.)
Dentre os trechos relacionados, identifique aquele cuja linguagem apresenta como característica a subjetividade.
Alternativas

Gabarito comentado

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A questão é de interpretação de texto e quer que identifiquemos, dentre os trechos relacionados, aquele cuja linguagem apresenta como característica a subjetividade. Vejamos:
 

A) “Sobre os meus quadros: foram recolocados na parede." (6º§)
ERRADO. Aqui não há subjetividade; o que há aqui é apenas a constatação de um fato.

 

B) “Dois quadros que tenho na parede da sala despencaram juntos." (1º§)
ERRADO. Aqui não há subjetividade; o que há aqui é apenas a constatação de um fato.



C) “Um belo dia a gente se olha no espelho e descobre que está velho." (3º§)
ERRADO. Aqui não há subjetividade. A banca provavelmente não considerou essa frase como subjetiva por não estar se referindo a uma ideia relacionada apenas ao autor, mas, sim, a um pensamento coletivo.


 
D) “Não consegui admitir essa gratuidade, fiquei procurando uma razão para a queda, haveria de ter uma." (1º§)

CERTO. Aqui HÁ subjetividade, pois a autora relata sua impressão pessoal sobre a queda dos quadros.


E) 
“Ninguém os havia tocado, nenhuma ventania naquele dia, nenhuma obra no prédio, nenhuma rachadura." (1º§)

ERRADO. Aqui não há subjetividade; o que há aqui é apenas a constatação de um fato.



Gabarito: Letra D


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Comentários

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Gabarito D

Subjetivo é o modo particular que cada indivíduo compreende os seus pensamentos e sentimentos

na alternativa D "Não consegui admitir essa gratuidade, fiquei procurando uma razão para a queda"

Mostra um sentimento de não aceitação do autor (subjetividade)

Ninguém os havia tocado, nenhuma ventania naquele dia, nenhuma obra no prédio, nenhuma rachadura.

Não consegui admitir essa gratuidade, fiquei procurando uma razão para a queda, haveria de ter uma.

não houve motivos reais, palpáveis, ou seja, só resta refletir, ruminar, subjetivar sobre.

Qual o erro na letra C? Não tem subjetivismo em olhar-se no espelho e concluir estar velho???

conceitos indeterminados: belo, velho. Por que não poderia ser a alternativa C?

Pra mim essa letra C está impregnada de subjetividade...

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