Releia e responda: “Quem escreve cartas é sempre um “narrad...
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Ano: 2024
Banca:
FACET Concursos
Órgão:
Prefeitura de Princesa Isabel - PB
Prova:
FACET Concursos - 2024 - Prefeitura de Princesa Isabel - PB - Professor Fundamental II - Português |
Q3066893
Português
Texto associado
O texto adiante também é de autoria do escritor
Cristovão Tezza. Leia-o e, em seguida, responda:
BLOGUEIRO DE PAPEL
(Cristovão Tezza)
Antigamente a desgraça das crianças na escola
eram os gibis. Coisa pesada, só péssimos exemplos: o
Tio Patinhas, aquela figura mesquinha, de um egoísmo
atroz, interesseiro e aproveitador, explorador de
parentes; o histérico Pato Donald, um eterno
fracassado a infernizar os sobrinhos; Mickey, um
sujeitinho chato, namorado da também chatíssima
Minnie; Pateta, um bobalhão sem graça. O estranho é
que não havia propriamente “família” – os tios e tias
misteriosos, todos sem pai nem mãe. Walt Disney, esse
complexo mundo freudiano, sob um certo ângulo, ou
esse paladino do imperialismo capitalista, sob outro, foi
a minha iniciação nas letras.
O tempo passou, os marginais de Disney
substituíram-se pelos integrados Cebolinha e seus
amigos, todos vivendo pacificamente vidas normais,
engraçadas e tranquilas em casas com quintal – e o
vilão da escola passou a ser a televisão. Foram duas
décadas, a partir dos anos 1970, agora sim, ágrafas.
Com a conivência disfarçada de pais e mães (um
alívio!), as crianças passavam horas diante da telinha.
Estudar, que é bom, nada – é o que diziam.
Acompanhei essa viagem desde a TV Paraná, canal 6,
com transmissões ao vivo (não havia videoteipe) no
estúdio da José Loureiro. Eu colecionava a revista TV
Programas, assistia ao seriado Bat Masterson e
aguardava ansioso a chegada de Chico Anysio, todas as
quartas. Depois vieram a TV em cores, as redes
nacionais, o barateamento do mundo eletrônico, e a
famigerada telinha passou a ser o próprio agente
civilizador do país – boa parte do Brasil via uma
torneira pela primeira vez no cenário de uma novela
das oito.
E agora, com a internet, a palavra escrita
voltou inesperada ao palco de uma forma onipresente.
Não há uma página na internet sem uma palavra
escrita; não há um só dia em que não se escreva muito
no monitor, e não se leia outro tanto. Os velhos diários
dos adolescentes de antanho voltaram em forma de
blogues – a intimidade trancada na gaveta de ontem
agora se escancara para o mundo. E, com ela, a
maldição: ora já se viu – em vez de estudar, dá-lhe
Orkut!
Tio Patinhas era melhor? Não sei dizer, mas
acho que há vilões muito mais graves que a internet. E
sou suspeito, também fascinado pela novidade. É
verdade que nunca me converti aos blogues, que
sugam tempo e precisam ser alimentados todo dia,
como gatos e cachorros. Mas cá estou eu, enfim,
blogueiro a manivela, inaugurando minha vida de
cronista.
[01/04/2008]
TEZZA, Cristovão. Um operário em férias, organização
e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett.
– Rio de Janeiro: Record, 2013.
Releia e responda: “Quem escreve cartas é sempre
um “narrador”, alguém a distância, e não uma
pessoa ao vivo.” A colocação do sinal de aspas,
na palavra destacada, pode incidir sobre a
significação dessa palavra ou remeter a algum
sentido implícito na construção em que ela
está inserida. As afirmações adiante se reportam ao
destaque deste sinal na palavra, porém APENAS
UMA DELAS está CORRETA. Assinale-a: