Analise o fragmento a seguir. “... uma série de bobagens e g...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Q1374309 Português
A língua como ela é

    Nos últimos dias tive uma experiência muito gratificante cumprindo o meu papel de professora de língua portuguesa – sim, gosto de enfatizar que dou aula de língua e não de gramática da língua. Pois é, nos últimos dias ensinei a nossa língua portuguesa a estrangeiros ávidos por aprender o idioma oficial do país que sediou o maior evento esportivo do planeta. São pessoas de todas as partes com um objetivo em comum: interagir, comunicar-se em português.
   Como práxis, nas aulas iniciais, ensinamos o verbo “ser” e “estar”; para nós brasileiros, o famoso e enfadonho verbo to be das aulinhas de inglês. Então, a lição inicial é fazer com que os iniciantes entendam a diferença entre ambos os verbos, já que na língua do Tio Sam tal diferença só é percebida no contexto comunicativo. As explicações acontecem com exemplos reais, a fim de mostrar-lhes a língua como ela é.
    Nas aulas para estrangeiros o “tu” e o “vós” são abolidos, completamente descartados, e isso é o sonho linguístico de toda e qualquer criança brasileira. Imaginem o tormento: conjugação do verbo “ir”, no presente do indicativo “tu vais”, “vós ides” e a criança inconformada e chorosa pergunta: “Mãe, alguém fala isso? Eu não falo”. Pois é, sábia conclusão! A criança, com seu conhecimento linguístico inato, não reconhece o idioma descrito na Gramática e intui que aquelas conjugações trarão uma imensa dor de cabeça e possíveis notas vermelhas.
   A língua como ela é não se apresenta, com pretérito-mais-que-perfeito, como insiste a Gramática Normativa e seus exemplos surreais: “O vento fechou a porta que o vento abrira.” Abrira?
   Com o futuro também temos problemas. Não, não sou vidente, não me refiro ao amanhã, refiro-me ao tempo gramatical. Ele, como a GN sugere, não participa dos nossos planos, visto que um casal, ao sonhar com o ninho de amor, não enrola a língua para conjugar o verbo “querer” e, em vez de dizer “Nós quereremos um apartamento de frente para o mar”, usam a corriqueira forma composta “Vamos querer...”. A partir disso, façamos uma reflexão: por que não mostrar aos nossos pupilos os tempos verbais no contexto da nossa realidade linguística? O tempo futuro pode ser dito com a forma composta (verbo auxiliar no presente + verbo principal no infinito) acompanhada pelo advérbio de tempo que situa a ideia. Sendo assim, dizemos: “Vou viajar amanhã”. E falar assim é menos futuro? É tanto quanto em “Viajarei amanhã”, com o detalhe de que está caindo em desuso na fala do dia a dia.
    Ah! Como é gostoso ensinar a língua viva! Aquela que não está engessada nos compêndios gramaticais! Porém, os gramáticos que elaboram tais manuais afirmariam categoricamente: ensinar português para estrangeiros é diferente de ensinar português a uma criança nativa, afinal, ela já sabe português. Concordo! Claro que não precisamos ensinar as diferenças entre ser e estar, levar e trazer, conhecer e saber, confusões típicas de um aprendiz não nativo.
    Sugerir e advogar a favor do ensino real da língua significa retirar o que não é utilizado ou é raramente visto na escrita, é ignorar regras inúteis que não influenciam na compreensão da língua. Um exemplo clássico é o pronome oblíquo no começo da oração. Os puristas da língua consideram um erro crasso, mas que mal pode haver em dizer “Me empresta o seu livro do Veríssimo”? E por que não escrever assim também? É uma tendência nossa o uso da próclise, enquanto os portugueses preferem a ênclise. O nosso olhar para com os fenômenos linguísticos se compara ao estudo de um biólogo ou de um botânico, que não diz que aquela flor é mais ou menos bela por causa do formato das pétalas ou da coloração. Falar “empresta-me” não é mais ou menos bonito, é diferente, e em ambos os casos a comunicação acontece.
    Portanto, a minha singela conclusão é que precisamos de gramáticas que não tenham espaço para mesóclise, pronome possessivo “vosso”, lista de substantivos coletivos, tipos de sujeito e predicado, enfim, uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é.

(Disponível em http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/53/artigo344826-1.asp. Acesso em: 08 set 2016.)
Analise o fragmento a seguir. “... uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é.” (8º§)
I. A primeira ocorrência do termo “porque” introduz ideia de explicação para o fato de não se ensinar conteúdos gramaticais para estrangeiros. II. O primeiro “porque” pode ser substituído pelo termo “conquanto” e o segundo pelo termo “porquanto”, sem provocar alteração de sentido no texto. III. Os articuladores “porque”, em ambas as ocorrências, apresentam o mesmo valor semântico ao introduzirem ideia de causa. IV. O segundo “porque” poderia ser escrito separado e sem acento (por que), sem que tal alteração ferisse os princípios na norma culta escrita no contexto em questão.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
Alternativas

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

Em linhas resumidas, a questão requereu do aluno o reconhecimento do valor semântico da conjunção "porque". Em cada item, a temática, embora se diferencie, apresenta como núcleo a análise da conjunção "porque".

“... uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é.”

I. A primeira ocorrência do termo “porque” introduz ideia de explicação para o fato de não se ensinar conteúdos gramaticais para estrangeiros. 

Incorreto. Tratando-se da conjunção "porque", nem sempre é fácil discriminar a oração coordenada explicativa da subordinada causal, pois com muita frequência é dificultoso traçar linhas rigorosas de demarcação entre os dois campos de ideia. Evanildo Bechara sugere abandonar essa distinção. Outra estudiosa, Maria Tereza Piacentini, no livro "Só Vírgula — Método Fácil em Vinte Lições", parece desde já, extraoficialmente, tomar a conjunção "porque" por causal/explicativa independente do contexto, seguindo, assim, a orientação de Bechara. De toda forma, a banca preferiu separar os conceitos. Há também entre os gramáticos quem se incline a fazê-lo, a exemplo de Antônio Suárez Abreu em "Gramática Integral da Língua Portuguesa". Havendo dúvida quanto uma ou outra classificação, ensina o autor inverter as orações. Se o sentido conservar-se, será oração subordinada adverbial causal (o "porque", pois, será conjunção causal). Em contrapartida, havendo impossibilidade de inversão, será oração coordenada explicativa (o "porque", portanto, será conjunção explicativa). Leia a reescritura do período:

"Porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é, uma série de bobagens e gramatiquices não ensinamos para os estrangeiros."

Feitas as devidas alterações, a reescritura preserva o sentido original. Destarte, afirma-se: as duas orações introduzidas pela conjunção "porque" são subordinadas adverbiais causais e a conjunção "porque" tem valor de causa.

II. O primeiro “porque” pode ser substituído pelo termo “conquanto” e o segundo pelo termo “porquanto”, sem provocar alteração de sentido no texto. 

Incorreto. Ambas as substituições propostas não conservam o sentido original do texto em vista do valor semântico discrepar significativamente: a conjunção "porque", nas duas passagens, tem valor causal; por seu turno, "conquanto" tem valor concessivo e "porquanto", conclusivo.

III. Os articuladores “porque”, em ambas as ocorrências, apresentam o mesmo valor semântico ao introduzirem ideia de causa. 

Correto. Vide o item I para melhor entendimento.

IV. O segundo “porque” poderia ser escrito separado e sem acento (por que), sem que tal alteração ferisse os princípios na norma culta escrita no contexto em questão.

Incorreto. É conjunção e deve ser grafada unida. O "por que", separado e sem acento, indica sempre pergunta direta ou indireta ou pode ser trocado por "pelo(s)/pela(s) qual(is)".

Letra B

LETRA B

I - ERRADO: Exprime a ideia da irrelevância da explicação de certos conteúdos gramaticais por serem irrelevantes.

II ERRADO: CONQUANTO = Conjunção subordinativa concessiva (consequência); PORQUANTO = Conjunção subordinativa causal. E no caso, ambos os "porquês" exprimem ideia de causa.

III - CERTO: Ambos os "porquês exprimem ideia de causa.

IV - ERRADO: POR QUÊ = Final de frase ou oração.

As questões de português dessa banca não são para amadores.

Vamos seguir fortes colegas!

Uma dica:

Nas causais, em alguns casos, é possível substituir o "porque" pela preposição " por" e colocar o verbo no infinitivo sem perder o sentido.

 uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, por não serem relevantes para comunicação.

ou

inverte a ordem e introduz com " como".

como não eram relevantes para a comunicação, não ensinamos para os estrangeiros.

GABARITO: LETRA B.

“... uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é.” (8o§)

I. A primeira ocorrência do termo “porque” introduz ideia de explicação para o fato de não se ensinar conteúdos gramaticais para estrangeiros. - ERRADO.

Na verdade, o primeiro "porque" introduz ideia de causa, e não de explicação.

II. O primeiro “porque” pode ser substituído pelo termo “conquanto” e o segundo pelo termo “porquanto”, sem provocar alteração de sentido no texto. ERRADO.

"Porque" é uma conjunção subordinativa causal, enquanto "conquanto" é uma conjunção subordinativa concessiva, de modo que não se pode substituir uma pela outra. Já o segundo termo poderia ser substituído por "porquanto", haja vista que ambos são conjunções causais.

III. Os articuladores “porque”, em ambas as ocorrências, apresentam o mesmo valor semântico ao introduzirem ideia de causa. - CERTO.

Ambos os porquês são conjunções subordinativas causais, portanto introduzem o mesmo valor semântico.

IV. O segundo “porque” poderia ser escrito separado e sem acento (por que), sem que tal alteração ferisse os princípios na norma culta escrita no contexto em questão. - ERRADO.

O segundo porquê é uma conjunção subordinativa causal, de modo que deve ser escrito junto e sem acento.

alguém me explica o motivo da I está errada

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo