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Q2273839 Português
TEXTO


       Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 15 milhões de brasileiros que moram em áreas urbanas e 2,3 milhões de moradores rurais não têm acesso a fontes seguras de água para suas necessidades domésticas e pessoais. A má higienização causada pela falta de água potável é um fator de maior vulnerabilidade para doenças adquiridas através do consumo de alimentos e água contaminados. Esse é o caso da toxoplasmose, prevalente em todo Brasil.
       Embora as autoridades não a reconheçam como doença negligenciada, o país ocupa o topo da lista de surtos e casos de toxoplasmose no mundo. Entre 2010 e 2018, foram registrados 14 surtos no Brasil, correspondendo a 56% dos 25 notificados nos últimos 50 anos.
       Além de ser transmitido por via oral, o parasita Toxoplasma gondii é capaz de ultrapassar barreiras importantes do nosso organismo, como a placenta. [...] Nos bebês, a toxoplasmose congênita pode ser assintomática, além de provocar sintomas graves, como atraso no desenvolvimento, cegueira, hidrocefalia. Dentre os fatores que contribuem para a gravidade das consequências da infecção, está o período da gestação em que o feto foi infectado. [...]
       Embora a maioria dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita sejam assintomáticos, os sinais da tríade clássica da doença – retinocoroidite, calcificação intracraniana e hidrocefalia – ocorrem em mais de 10% dos indivíduos desse grupo. Há outros casos também em que a doença se manifesta com sinais não específicos de infecção aguda, como convulsões, aumento do baço e fígado, febre, anemia, entre outros.
       Alguns dos recém-nascidos desse grupo podem desenvolver sintomas clínicos e deficiências na vida adulta, afetando, sobretudo, a visão. [...]
       Mas não é apenas por causa do risco de infecção em bebês e pessoas imunossuprimidas que devemos ficar atentos a essa doença. A incidência de pessoas com problemas de visão no nosso território, tanto naquelas saudáveis quanto nas que têm algum tipo de comprometimento no sistema imunológico é alta. 
       No Sul, diversos grupos de pesquisadores e médicos da região mostraram que a alta incidência de quadros oculares no Brasil tem relação com a circulação de genótipos atípicos de Toxoplasma gondii, sendo que nenhum deles é mais dominante do que os outros. [...]
       Os problemas de visão ocorrem pela infecção do Toxoplasma gondii na região mais interna do olho conhecida como úvea posterior; especificamente, nos tecidos coroide e retina. A coroide é bastante vascularizada, importante para a nutrição dos fotorreceptores localizados na parte mais externa da retina. A retina é responsável pela captação de luz que irá formar as imagens enviadas para interpretação no cérebro. Uma vez que a lesão alcança áreas da retina com maior número de fotorreceptores, como a mácula e a fóvea, o paciente pode apresentar baixa visão ou até desenvolver a cegueira. [...]
       Um estudo publicado, em 2022, mostrou a importância da atenção à toxoplasmose ocular nos diagnósticos de uveítes posteriores. Após avaliar mais de 3 mil pacientes, os autores relataram que, atualmente, a toxoplasmose é a principal causa de retinocoroidite (inflamação da retina e da coroide), atingindo principalmente a população em idade mais produtiva, ou seja, inserida no mercado de trabalho. Essa constatação revela que o impacto da toxoplasmose ocular não se restringe apenas à qualidade de vida do paciente, inclui também perdas econômicas e sociais para o país.
       Popularmente, a toxoplasmose é conhecida como a ‘doença do gato’. De forma equivocada, acredita-se que a transmissão da doença ocorra apenas através do contato da boca com as mãos contendo restos de fezes de gatos domésticos. A infecção ocorreria durante a limpeza das caixas de areia, onde se encontram as fezes contaminadas com o Toxoplasma gondii, na forma de oocistos. [...]
       Estudo realizado na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ) mostrou que o consumo de água não-tratada adequadamente pode aumentar em até três vezes o risco de contrair essa infecção. [...]  
       A OMS classifica a toxoplasmose como “doença transmitida por alimentos contaminados”, uma vez que a via oral é a principal rota de transmissão. Nesse caso, a infecção ocorre pelo consumo de água, frutas e verduras contaminadas com oocistos ou de carnes cruas ou mal passadas (sobretudo, porcos, ovinos e bovinos) também contaminadas com cistos. [...]
       Por conta da pressão do sistema imune para combater a infecção, o Toxoplasma gondii inicia o processo de ‘encistamento’ para se proteger. Durante esse processo, o parasita diminui o seu ritmo de replicação e permanece em estado ‘adormecido’ nos músculos, cérebro, coração e outros órgãos do hospedeiro, até ter condições de retornar à fase de multiplicação rápida e continuar sua disseminação pelo organismo, ou passar para outro animal que tenha ingerido partes do seu corpo contaminado. [...]
       A transfusão de sangue, o transplante de órgãos e o compartilhamento de agulhas também são formas de transmissão dessa parasitose. Por isso, o controle de qualidade e da presença de T. gondii, principalmente em concentrado de linfócitos para determinadas transfusões, é fundamental. Esse parasito não infecta hemácias, mas pode infectar e ‘pegar carona’ em outras células do sangue.
       Apesar de existir tratamento para a toxoplasmose, as medicações utilizadas são as mesmas descobertas na década de 1950, que têm ação apenas durante a fase aguda da doença, quando o parasito ainda não se transformou em cisto. O tratamento da toxoplasmose humana ainda conta com a combinação de dois medicamentos: sulfonamidas e derivados diaminopirimidínicos. Estes medicamentos são em sinergia à soma das ações de cada medicamento para inibir a síntese de folato.
       Para evitar que apareçam efeitos adversos decorrentes do bloqueio da produção de folato, recomenda-se que o paciente tome suplementos de ácido folínico. Entre os efeitos adversos, estão a anemia megaloblástica [...], reações de hipersensibilidade às sulfonamidas e necrose hepática. Por causa disso e do tratamento ser longo, ao menos 30% das pessoas deixam de se tratar. [...]


ARAUJO, M. R. P. de; VOMMARO, R. C. Toda a atenção para a toxoplasmose. In: Revista Ciência Hoje [CH 397]. Disponível em: . Último acesso em 12 de junho de 2023. (Adaptado) 
Em “Alguns dos recém-nascidos desse grupo podem desenvolver sintomas clínicos e deficiências na vida adulta, afetando, sobretudo, a visão”, os termos destacados devem ser classificados, respectivamente, como: 
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Gabarito comentado

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A questão exige conhecimentos de classes gramaticais e interpretação textual.


Trecho a ser analisado: “Alguns dos recém-nascidos desse grupo podem desenvolver sintomas clínicos e deficiências na vida adulta, afetando, sobretudo, a visão”.


  • Alguns: Pronome indefinido -> pronome que se aplica à terceira pessoa gramatical de maneira vaga e indeterminada
  • Clínicos: Adjetivo -> atribui característica a um substantivo (no caso, “sintomas”)
  • Sobretudo: Advérbio -> atribui característica a um verbo, adjetivo ou outro advérbio (no caso, atribui intensidade ao verbo “afetando”)

A) INCORRETA. “Alguns” é um pronome indefinido, entretanto “clínicos” não é um substantivo (palavras que nomeiam seres), mas sim um adjetivo, e “sobretudo” seria uma preposição caso apresentasse a grafia das palavras separadas (“sobre tudo”).


B) INCORRETA. “Alguns” não é um advérbio por não atribuir característica a um verbo, adjetivo ou outro advérbio, de modo que é um pronome indefinido. “Clínicos” é um adjetivo e “sobretudo” é um advérbio.


C) INCORRETA. “Alguns” não indica um número específico, apesar de dar a ideia de quantidade. Por implicar um caráter de indefinição, é um pronome indefinido. “Clínicos” é um adjetivo pois está conferindo uma característica ao substantivo “sintomas”, e não atuando como o substantivo em si. “Sobretudo” seria uma preposição apenas caso apresentasse a grafia das palavras separadas (“sobre tudo”).


D) INCORRETA. Pronomes relativos retomam termos anteriores do texto, o que não é o caso de “alguns” no trecho analisado, no qual exerce a função de pronome indefinido. “Clínicos” é um adjetivo, entretanto, “sobretudo” seria uma preposição apenas caso apresentasse a grafia das palavras separadas (“sobre tudo”).


E) CORRETA. As classes gramaticais de cada termo foram corretamente indicadas.


Gabarito: Letra E


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Comentários

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E

E

Pronomes indefinidos são aqueles que se referem à 3ª pessoa do discurso de modo vago, genérico e impreciso. Pode funcionar como pronome adjetivo ou pronome substantivo. Veja:

Todos poderão participar do concurso literário.

Muitos alunos dessa escola foram classificados para a fase final do concurso.

Alguns pronomes indefinidos são variáveis, ou seja, sofrem flexão de gênero e número, como nenhum, outro, qualquer. Outros são invariáveis, como tudo, nada, cada, quem.

Quando um grupo de palavras desempenha função de pronome indefinido, recebe o nome de locução pronominal indefinida. Exemplos: qualquer um, cada qual, todo aquele que etc....

E

Alguns - Pronome indefinido (um, uns, uma, umas...)

Clínicos - está qualificando o termo anterior (sintomas), logo está dizendo o estado do sintoma.

Sobretudo - é um advérbio por ser invariável.

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