Sobre a crônica: I. É narrada por um narrador observador. ...
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Ano: 2021
Banca:
Alternative Concursos
Órgão:
Prefeitura de Esperança do Sul - RS
Provas:
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|
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Q1676942
Português
Texto associado
Leia o texto com atenção:
EMERGÊNCIA
É fácil identificar o passageiro de primeira
viagem. É o que já entra no avião desconfiado. O
cumprimento da aeromoça, na porta do avião, já é
um desafio para a sua compreensão.
– Bom dia...
– Como assim?
Ele faz questão de sentar num banco de
corredor, perto da porta. Para ser o primeiro a sair
no caso de alguma coisa dar errado. Tem
dificuldade com o cinto de segurança. Não
consegue atá-lo. Confidencia para o passageiro ao
seu lado:
– Não encontro o buraquinho. Não tem
buraquinho?
Acaba esquecendo a fivela e dando um nó
no cinto.
Comenta, com um falso riso descontraído:
“Até aqui, tudo bem”. O passageiro ao lado explica
que o avião ainda está parado, mas ele não ouve. A
aeromoça vem lhe oferecer um jornal, mas ele
recusa.
– Obrigado. Não bebo.
Quando o avião começa a correr pela pista
antes de levantar voo, ele é aquele com os olhos
arregalados e a expressão de Santa Mãe do Céu!
No rosto. Com o avião no ar, dá uma espiada pela
janela e se arrepende. É a última espiada que dará
pela janela.
Mas o pior está por vir. De repente ele ouve
uma misteriosa voz descarnada. Olha para todos os
lados para descobrir de onde sai a voz.
“Senhores passageiros, sua atenção, por
favor. A seguir, nosso pessoal de bordo fará uma
demonstração de rotina do sistema de segurança
deste aparelho. Há saídas de emergência na frente,
nos dois lados e atrás.”
– Emergência? Que emergência? Quando
eu comprei a passagem ninguém falou nada em
emergência. Olha, o meu é sem emergência.
Uma das aeromoças, de pé ao seu lado,
tenta acalmá-lo.
– Isto é apenas rotina, cavalheiro.
– Odeio a rotina. Aposto que você diz isso
para todos. Ai meu santo.
“No caso de despressurização da cabina,
máscaras de oxigênio cairão automaticamente de
seus compartimentos.”
– Que história é essa? Que
despressurização? Que cabina?
“Puxe a máscara em sua direção. Isso
acionará o suprimento de oxigênio. Coloque a
máscara sobre o rosto e respire normalmente.”
– Respirar normalmente?! A cabina
despressurizada, máscaras de oxigênio caindo
sobre nossas cabeças – e ele quer que a gente respire normalmente?! “Em caso de pouso forçado
na água...”
– O quê?!
“... os assentos de suas cadeiras são
flutuantes e podem ser levados para fora do
aparelho e...”
– Essa não! Bancos flutuantes, não! Tudo,
menos bancos flutuantes!
– Calma, cavalheiro.
– Eu desisto! Parem este troço que eu vou
descer. Onde é a cordinha? Parem!
– Cavalheiro, por favor. Fique calmo.
– Eu estou calmo. Calmíssimo. Você é que
está nervosa e, não sei por quê, está tentando
arrancar as minhas mãos do pescoço deste
cavalheiro ao meu lado. Que, aliás, também parece
consternado e levemente azul.
– Calma! Isso. Pronto. Fique tranquilo. Não
vai acontecer nada.
– Só não quero mais ouvir falar de banco
flutuante.
– Certo. Ninguém mais vai falar em banco
flutuante.
Ele se vira para o passageiro ao lado, que
tenta desesperadamente recuperar a respiração, e
pede desculpas. Perdeu a cabeça.
– É que banco flutuante foi demais. Imagine
só. Todo mundo flutuando sentado. Fazendo sala
no meio do Oceano Atlântico!
A aeromoça diz que lhe vai trazer um
calmante e aí mesmo é que ele dá um pulo:
– Calmante, por quê? O que é que está
acontecendo? Vocês estão me escondendo alguma
coisa!
Finalmente, a muito custo, conseguem
acalmá-lo. Ele fica rígido na cadeira. Recusa tudo
que lhe é oferecido. Não quer o almoço. Pergunta
se pode receber a sua comida em dinheiro. Deixa
cair a cabeça para trás e tenta dormir. Mas, a cada
sacudida do avião, abre os olhos e fica cuidando da
portinha do compartimento sobre sua cabeça, de
onde, a qualquer momento, pode pular uma
máscara de oxigênio e matá-lo do coração.
De repente, outra voz. Desta vez é a do
comandante.
– Senhores passageiros, aqui fala o
comandante Araújo. Neste momento, à nossa
direita, podemos ver a cidade de...
Ele pula outra vez da cadeira e grita para a
cabina do piloto:
– Olha para a frente, Araújo! Olha para a
frente!
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Mais comédias para ler
na escola. São Paulo: Objetiva, 2009.
Com base no texto lido responda a questão:
Sobre a crônica:
I. É narrada por um narrador observador. II. É possível perceber ao final do texto que o passageiro se mostra sólito ao voo. III. A intencionalidade discursiva do autor da crônica é relatar, de forma cômica, a ignávia que acomete alguns passageiros. IV. A intenção discursiva do escritor é de relatar o descontrole de alguns passageiros durante um suposto primeiro voo, o que provoca exasperação dentro do avião.
I. É narrada por um narrador observador. II. É possível perceber ao final do texto que o passageiro se mostra sólito ao voo. III. A intencionalidade discursiva do autor da crônica é relatar, de forma cômica, a ignávia que acomete alguns passageiros. IV. A intenção discursiva do escritor é de relatar o descontrole de alguns passageiros durante um suposto primeiro voo, o que provoca exasperação dentro do avião.