“Seu senhor comia-lhe a pele do corpo.” Nesse contexto, o p...
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Ano: 2019
Banca:
Instituto Excelência
Órgão:
Prefeitura de Lucélia - SP
Provas:
Instituto Excelência - 2019 - Prefeitura de Lucélia - SP - Professor de Educação Básica II - Inglês
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Q1719839
Português
Texto associado
João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco
anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as
quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos
refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do
pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirarse o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de
ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava
dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o
rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor,
possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava
resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão
da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo
travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A
comida arranjava-lhe, mediante quatrocentos réis por dia,
uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona,
escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e
amigada com um português que tinha uma carroça de
mão e fazia fretes na cidade.
Bertoleza também trabalhava forte; a sua
quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De
manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado;
pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para
a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr
meia légua, puxando uma carga superior às suas forças,
caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como
uma besta.
João Romão mostrou grande interesse por esta
desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da
vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa
mulher o escolheu para confidente das suas desventuras.
Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e
dificuldades. “Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não
era brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar
pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro!” E
segredou-lhe então o que já tinha junto para a sua
liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe
guardasse as economias, porque já de certa vez fora
roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos
fundos.
(Trecho retirado de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. Disponível em:
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/cortico.pdf)
“Seu senhor comia-lhe a pele do corpo.” Nesse
contexto, o pronome oblíquo átono exerce a função
de: