Na passagem “(I) Quanto mais se nasce pronto, mais refém do...
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Q1947028
Português
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O animal satisfeito dorme
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal
satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um
dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição
humana perde substância e energia vital toda vez que se sente
plenamente confortável com a maneira como as coisas já
estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se
na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação
conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem
para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita,
amortece.
Um bom filme não é exatamente aquele que termina e
ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela,
enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse?
Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura,
o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes,
pensando que não poderia terminar?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de
ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados.
Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se
terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas
repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais
se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto,
do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos
tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas,
não saberíamos enfrentar.
Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce
não-pronta, e vai se fazendo. Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não
convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o
escuro é claro”…
(Mario Sergio Cortella. Disponível em: https://www.contioutra.com.
Acesso em 12.01.2020)
Na passagem “(I) Quanto mais se nasce pronto, mais
refém do que já se sabe e, (II) portanto, do passado...”,
as relações de sentido estabelecidas pelas conjunções
nos trechos (I) e (II) são, correta e respectivamente, de