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Q3096887 Português
O CAVALO E O BURRO


Monteiro Lobato



O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado!gemendo sob o peso de oito.Em certo ponto, o burro parou e disse:


— Não posso mais!Esta carga excede as minhas forças, e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.


O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.


— Ingênuo!Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro?Tenho cara de tolo?


O burro gemeu:


— Egoísta!Lembre-se que, se eu morrer, você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.


O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso.Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.


Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e, sem demora, arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.


— Bem feito! exclamou o papagaio.Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora…


Fonte: LOBATO, Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994.
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