No segundo parágrafo, a autora sugere ao leitor que se sint...
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Ano: 2022
Banca:
Avança SP
Órgão:
Câmara Municipal de Sorocaba
Provas:
Avança SP - 2022 - Câmara Municipal de Sorocaba - Contador II
|
Avança SP - 2022 - Câmara Municipal de Sorocaba - Analista de Sistemas I |
Q1924252
Português
Texto associado
O que as aves que voam em bando nos ensinam
sobre liderança
Liderança não pode ser solitária. E, para isso,
precisamos exercer nossa vulnerabilidade sem
moderação, abusando da rede de apoio para
validar hipóteses.
Luciana Rodrigues 6 de outubro de 2021
Quem vê uma graciosa revoada no céu pode até
não imaginar que, por trás daquela disposição
aparentemente aleatória, estão lições muito úteis
para nós aqui na terra. Além das questões
relacionadas à aerodinâmica – que permitem que as
aves migratórias economizem energia, por
exemplo – o papel da ave mais experiente do grupo
é essencial para definir a direção que o grupo
inteiro deve tomar.
Nem sempre o líder é aquele que está à frente
do bando. Quando está fatigado, ele reveza a
dianteira com a ave que está imediatamente atrás.
Uma das vantagens de andar em grupo é permitir
que o bando tenha mais resistência para viagens
longas e difíceis, e ainda aproveitem o impulso
gerado pelo deslocamento de ar do pássaro que voa
à frente. A formação em V também melhora a
comunicação e a coordenação do bando. Se
voassem sozinhas, cada uma por si, demorariam
mais tempo, e chegar ao seu destino seria uma
tarefa muito mais árdua. Aqui, fique à vontade para
fazer qualquer paralelo com a sociedade em que
vivemos.
Sinto que estamos tão obcecados com
tecnologia e para estar constantemente atualizados
sobre tudo o que acontece, a todo instante (olá,
FOMO), que esquecemos de reservar um tempo
para observar e aprender com a natureza. Parar e
simplesmente contemplar. Faça um teste: tente
lembrar a última vez que você sentiu tédio.
Provavelmente, esse momento foi rapidamente
interrompido por um “scroll” em uma rede social
ou por uma notificação no celular.
Não me entenda mal, sou fã e tenho me
dedicado a aprender cada vez mais sobre
tecnologia. Mas ela deveria ser uma viabilizadora
de ideias e movimentos, ajudando pessoas a se
conectarem com seu propósito.
Para os privilegiados, e aí me incluo, a
pandemia apresentou a possibilidade do trabalho
remoto. No meu caso, também proporcionou um
contato maior com a natureza. Tenho passado cada
vez mais tempo no campo e daí veio a minha
observação sobre os pássaros, que me levou a fazer
este paralelo com liderança.
Liderança não pode ser solitária. E, para isso,
precisamos exercer nossa vulnerabilidade sem moderação: pedir ajuda, fazer perguntas, usar e
abusar da nossa rede de apoio para validar
hipóteses, e até mesmo tomar decisões erradas
juntos. Bons líderes estão em constante
desenvolvimento. Por isso, é normal e esperado
cometer alguns erros nessa jornada.
Mais uma vez, volto a citar nesta coluna o
“Livro da Desreceita”, criado a muitas mãos pelos
líderes da empresa da qual sou CEO. Nele tem um
capítulo inteiro dedicado a esse assunto, com o
sugestivo título “Um time inteligente vale mais que
um time de inteligentes”. Destaco aqui um trecho:
“É provado na natureza que a inteligência coletiva
supera os talentos individuais. Todavia, crescemos
e aprendemos com um modelo que sempre se
apoiou em exaltar talentos individuais, o
brilhantismo de um indivíduo em sobreposição à
competência coletiva.”
Assim como a ave líder que abre espaço para
que outras sejam protagonistas, sempre tive como
um dos meus mantras permitir que as pessoas ao
meu redor voassem na frente. Contudo, precisei de
muito tempo – na verdade, anos – para entender
que por mais que você tenha a intenção genuína de
fazer com que as pessoas cresçam, evoluam e
sejam protagonistas da sua carreira, muitas vezes a
forma que você quer aplicar – baseada na sua
experiência – carrega uma história pessoal e,
muitas vezes, distante da realidade de quem a
recebe.
Alejandro Jodorowisky, cineasta, ator, poeta e
escritor, sabiamente disse: “Entre o que eu penso,
o que quero dizer, o que digo e o que você ouve, o
que você quer ouvir e o que você acha que
entendeu, há um abismo”.
Eu explico: quando assumi a posição de
liderança em uma das maiores empresas de
entretenimento do mundo para a América Latina,
entendi que deveria conectar as pessoas e dar palco
para elas ecoarem suas vozes. Queria encorajá-las,
abrindo oportunidades para que pudessem expor
suas histórias, sonhos, ideias e pudessem
potencializar sua criatividade, mas poucos se
animavam. Passei por outras empresas depois
dessa, mas o meu objetivo nunca foi alcançado da
forma que eu imaginava.
Uma das iniciativas que implementei foi um
“Talent Show” para que as pessoas pudessem
compartilhar seus projetos e, os que fizessem mais
sentido, unindo criatividade e os objetivos de
negócio da companhia, seriam produzidos. Para
minha surpresa, após poucos meses, recebi um email do “headquarters” dizendo que essa iniciativa
estava deixando as pessoas incomodadas, algumas,
mais sêniores, por acharem que suas posições
estavam sendo ameaçadas, outras, por se sentirem pressionadas, mesmo que a participação fosse
totalmente opcional.
Mas por que as pessoas não “querem” ser
protagonistas? Timidez? Preguiça? Não querem
evoluir? Ou, simplesmente, por que escolheram um
caminho diferente do meu? Acreditei cegamente
que tinha a responsabilidade (e obrigação) de
construir pontes e abrir portas para todos, sem
exceção. Depois de muita reflexão, conversas e
terapia, entendi que estava colocando a minha
expectativa do que é sucesso no outro, e aprendi
uma lição muito importante: sucesso é pessoal.
Sucesso é ter a liberdade de dizer não.
Um dos trechos do Livro “Os Quatro
Compromissos”, de Don Miguel Ruiz, diz o
seguinte: “Nada do que os outros fazem é motivado
por você. É por causa deles mesmos. Todas as
pessoas vivem em seu próprio sonho, em sua
própria mente; estão num mundo completamente
diferente daquele no qual vivemos. Quando
levamos algo para o lado pessoal, presumimos que
os outros sabem o que está em nosso mundo –
aquilo que tentamos impor ao mundo deles.”
Há poucos dias, recebi uma mensagem de uma
profissional muito talentosa que trabalhou comigo.
A mensagem era exatamente assim: “…carrego
comigo a vontade de evoluir como líder e gestora e
você vem com frequência na minha cabeça… acho
até que antes eu não valorizava tanto a sua presença
quanto eu faço hoje…”.
Aprendo, todos os dias, que liderar não é sobre
agradar e fazer o esperado, e sim, é sobre seguir
com um propósito claro – Jodorowisky discordaria
desse ponto sobre quão claro isso pode ser.
Sigo acreditando que este sábio provérbio
africano, “se você quer ir rápido, vá sozinho. Se
quer ir longe, vá acompanhado”, é a única forma
possível para nós, humanos, ou para as aves,
seguirem nessa jornada chamada vida.
Luciana Rodrigues é CEO e presidente da Grey Brasil,
conselheira do board da Junior Achievement, membro do
conselho MMA Brasil e do comitê estratégico de presidentes
da Amcham. Também é aluna de pós-graduação em
neurociências e comportamento.
Vocabulário:
• scroll: rolagem (na tela do celular ou do computador)
• CEO: diretor executivo
• Talent Show: show de talentos
• headquarters: sede de uma empresa
RODRIGUES, Luciana. O que as aves que voam em bando
nos ensinam sobre liderança. Forbes Brasil, 06 de outubro de
2021. Disponível em:
https://forbes.com.br/colunas/2021/10/luciana-rodrigues-oque-as-aves-que-voam-em-bando-nos-ensinam-sobrelideranca/.
No segundo parágrafo, a autora sugere ao leitor
que se sinta confortável “para fazer qualquer
paralelo” entre o voo das aves e a vida em
sociedade. Tal expressão significa que o leitor
pode elaborar