“Fiquei com pena dele, embora saiba que...” (5º§). A palavra...
Texto
Os pobres homens ricos
Um amigo meu estava ofendido porque um jornal o chamou de boa‐vida. Vejam que país, que tempo, que situação! A vida deveria ser boa para toda gente, o que é insultuoso é que o seja apenas para alguns.
“Dinheiro é a coisa mais importante do mundo.” Quem escreveu isso não foi nenhum de nossos estimados agiotas. Foi um homem que a vida inteira viveu de seu trabalho, e se chamava Bernard Shaw. Não era um cínico, mas um homem de vigorosa fé social, que passou a vida lutando, a seu modo, para tornar melhor a sociedade em que vivia – e em certa medida o conseguiu. Ele nos fala de alguns homens ricos:
“Homens ricos e aristocratas com um desenvolvido senso de vida – homens como Ruskin, Willian Morris, Kropotkin – têm enormes apetites sociais… não se contentam com belas casas, querem belas cidades… não se contentam com esposas cheias de diamantes e filhas em flor; queixam‐se porque a operária está malvestida, a lavadeira cheira a gim, a costureira é anêmica, e porque todo homem que encontra não é um amigo e toda mulher não é um romance… sofrem com a arquitetura do vizinho…”
Esse “apetite social” é raríssimo entre os nossos homens ricos; a não ser que “social” seja tomado no sentido de “mundano”. E nossos homens de governo têm uma pasmosa desambição de governar.
Vi, há tempo, um conhecido meu, que se tornou muito rico, sofreu horrorosamente na hora de comprar um quadro. Achava o quadro uma beleza, mas como o pintor pedia tantos contos ele se perguntava, e me perguntava, e perguntava a todo mundo se o quadro “valia” mesmo aquilo, se o artista não estaria pedindo aquele preço por sabê‐lo rico, se não seria “mais negócio” comprar um quadro de fulano. Fiquei com pena dele, embora saiba que numa noite de jantar e boate ele gaste tranquilamente aquela importância, sem que isso lhe dê nenhum prazer especial. Fiquei com pena porque realmente ele gostava do quadro, queria tê‐lo, mas o prazer que poderia ter obtendo uma coisa ambicionada era estragado pela preocupação do negócio. Se não fosse pelo pintor, que precisava de dinheiro, eu o aconselharia a não comprar.
Homens públicos sem sentimento público, homens ricos que são, no fundo, pobres‐diabos – que não descobriram que a grande vantagem real de ter dinheiro é não ter que pensar a todo momento, em dinheiro…
(BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas. 31ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010.)
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GABARITO: LETRA D
? ?Fiquei com pena dele, embora saiba que...? (5º§)
? Em destaque, temos uma conjunção subordinativa concessiva (valor semântico de concessão).
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? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
Conectivos que introduzem uma ideia de Concessão:
Embora, mesmo que, ainda que, por mais que, se bem que, posto que, conquanto, a despeito de que, apesar de que, não obstante, malgrado, em que pese.
É só lembrar que "concessiva quebra".
É quebra de expectativa:
Embora, ainda que, conquanto, mesmo que, posto que, apesar de que, malgrado.
Outra forma de não esquecer é associar com as músicas:
de Legião Urbana: "Ainda que eu falasse a língua dos anjos... Sem amor eu nada seria"; e
de Chico Buarque: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia"
Hoje sempre que vejo uma concessiva na prova canto um desses trechos.
Parece loucura, mas depois que entra na sua cabeça é difícil tirar e errar.
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