“Embora o mais correto fosse dizer que a verdade é vítima r...
A longa história das notícias falsas
A primeira vítima da guerra é a verdade, afirma um velho ditado jornalístico. Embora o mais correto fosse dizer que a verdade é vítima recorrente em qualquer sociedade organizada, porque a mentira política é uma arte tão velha quanto a civilização. A verdade é um conceito fugidio na metafísica e mutante nas ciências - uma nova descoberta pode anular o que se dava como certo -, mas no dia a dia o assunto é bem diferente: há coisas que aconteceram, e outras que não; mas os fatos, reais ou inventados, influenciam a nossa percepção e opinião.
Desde a Antiguidade, verdade e mentira se misturaram muitíssimas vezes, e essas realidades falsas influenciaram nosso presente. Chegados a este ponto, convém fazer uma distinção entre notícias falsas e propaganda: ambas crescem e se multiplicam no mesmo ecossistema, mas não são exatamente iguais. A propaganda procura convencer, ser eficaz, e para isso pode recorrer a todo tipo de instrumento, da arte e do cinema aos pasquins e redes sociais. As notícias falsas, um dos ramos da propaganda, são diferentes: procuram enganar, criar outra realidade. A preocupação com a perpetuação desses equívocos e com os mecanismos que os criam e multiplicam não é nova: Reflexões de um historiador sobre as notícias falsas da guerra é o título de um pequeno e influente ensaio que Marc Bloch publicou originalmente... em 1921.
Esse historiador, assassinado pelos nazistas em 1944, foi um dos mais influentes do século XX. “As notícias falsas mobilizaram as massas. As notícias falsas, em todas as suas formas, encheram a vida da humanidade. Como nascem? De que elementos extraem sua substância? Como se propagam e crescem?”, escreve Bloch, para afirmar um pouco mais adiante: “Um erro só se propaga e se amplifica, só ganha vida com uma condição: encontrar um caldo de cultivo favorável na sociedade onde se expande. Nele, de forma inconsciente, os homens expressam seus preconceitos, seus ódios, seus temores, todas as suas emoções”. Em outras palavras, as notícias falsas necessitam de gente que queira acreditar nelas.
O século XX e o que j á vivemos do XXI são a era das mentiras em massa. Três dos grandes conflitos em que os Estados Unidos se meteram neste período começaram com invenções: a guerra de Cuba (1898), com a manipulação dos j ornais; a guerra do Vietnã (1955-1975), com o incidente do golfo de Tonkin, e a invasão do Iraque de 2003, com as inexistentes armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
Ao mesmo tempo em que surgiam os jornais de circulação maciça, nascia também um certo ceticismo em relação a eles. Era como se alguns se empenhassem em demonstrar que a verdade estava em outro lugar. Essa desconfiança se prolonga até nossos dias, com aqueles que acreditam erroneamente que a imprensa conta mentiras, e que as redes sociais oferecem verdades. Com o telégrafo, chegou a possibilidade de enviar rapidamente histórias através de longas distâncias; com o linotipo foi possível imprimir maciçamente; e com os novos meios de transporte essas publicações puderam ser distribuídas em numerosos lugares. Mas nesse mesmo momento, no final do século XIX, surgiu a desconfiança quanto àquilo que contavam, a mesma que nutre agora os que procuram essa outra verdade no Facebook. que para alguns é a única janela para o mundo. É muito significativa, nesse sentido, uma cena de Um Estudo em Vermelho, o primeiro romance de Sherlock Holmes, publicado em 1887, em que o detetive e Watson repassam os diferentes jornais - The Daily Telegraph, Daily News, Standard - e todos contam uma versão falsa do crime que estão investigando, impulsionada por motivos políticos: uns culpam os europeus, outros os estrangeiros, ou os liberais. Nenhum cita uma pista confiável.
Guilhermo Altares
(Adaptado de: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/08/
cultura/1528467298 389944.html)
Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
GABARITO: LETRA D
→ questão clássica de diferenciação de "que" pronome relativo e "que" conjunção integrante:
→ “Embora o mais correto fosse dizer que a verdade é vítima recorrente em qualquer sociedade organizada”. → quem diz, diz alguma coisa (ISSO) → conjunção integrante pode ser trocada por "ISSO", dá início a uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
a) “uma nova descoberta pode anular o que se dava como certo” → o "o" é um pronome demonstrativo podendo ser substituído por "aquilo", o pronome relativo "que" retoma o pronome "o", dessa forma temos um pronome relativo.
b) “Reflexões de um historiador sobre a notícias falsas da guerra é o título de um pequeno e influente ensaio que Marc Bloch publicou originalmente... em 1921” → pronome relativo, retomando o substantivo "ensaio", pode ser substituída por "o qual".
c) “Três dos grandes conflitos em que os Estados Unidos se meteram neste período começaram com invenções” → pronome relativo retomando "três dos grandes conflitos", pode ser substituída por "nos quais".
d) “Era como se alguns se empenhassem em demonstrar que a verdade estava em outro lugar” → quem demonstra, demonstra algo (verbo transitivo direto), o "que" é uma conjunção integrante, equivale a "isso", temos a nossa resposta.
FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☻
Pq não é a letra A?
GABARITO: D
Assertiva: "Embora o mais correto fosse dizer (isso) que a verdade é vítima recorrente em qualquer sociedade organizada”.
Alternativa: “Era como se alguns se empenhassem em demonstrar (isso) que a verdade estava em outro lugar”.
Percebeste que em ambas você conseguir trocar o "que" pela palavra "isso"? Sempre que ocorrer tal possibilidade o "que" será uma conjunção integrante. As conjunções integrantes introduzem orações substantivas.
"Não pare até que tenha terminado aquilo que começou." - Baltasar Gracián.
-Tu não pode desistir.
uma dica, verbo antes de QUE conjunçao INTEGRANTE É.
MAS CUIDADO EXISTEM ALGUMAS REGRAS, MAS VOCE CONSEGUE MATAR 90% DAS QUESTOES.
- só troca o QUE POR ISSO. se tem sentido é conjunção integrante .
boa sorte DEUS É CONTIGO
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