"Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um pôr-de...
Quanto custa um pôr-de-sol?
Leonardo Boff
1 Um grande empresário americano, estando em Roma, quis mostrar ao filho a beleza de um pôr-
2 de-sol nas colinas de Castelgandolfo. Antes de se postarem num bom ângulo, o filho perguntou ao pai:
3 "pai, onde se paga?" Esta pergunta revela a estrutura da sociedade dominante, assentada sobre a economia
4 e o mercado. Nela para tudo se paga - também um pôr-de-sol - tudo se vende e tudo se compra.
5 Ela operou, segundo notou ainda em 1944 o economista norte-americano Polanyi, a grande
6 transformação ao conferir valor econômico a tudo. As relações humanas se transformaram em transações
7 comerciais e tudo, tudo mesmo, do sexo à Santíssima Trindade, vira mercadoria e chance de lucro.
8 Se quisermos qualificá-la, diríamos que esta é uma sociedade produtivista, consumista e
9 materialista. É produtivista porque explora todos os recursos e serviços naturais visando o lucro e não a
10 preservação da natureza. É consumista porque se não houver consumo cada vez maior não há também
11 produção nem lucro. É materialista, pois sua centralidade é produzir e consumir coisas materiais e não
12 espirituais como a cooperação e o cuidado. Está mais interessada no crescimento quantitativo – como
13 ganhar mais – do que no desenvolvimento qualitativo – como viver melhor com menos – em harmonia
14 com a natureza, com equidade social e sustentabilidade sócio-ecológica.
15 Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um pôr-de-sol. Não se compra na bolsa a lua
16 cheia “que sabe de mi largo caminar.” A felicidade, a amizade, a lealdade e o amor não estão à venda nos
17 shoppings. Quem pode viver sem esses intangíveis? Aqui não funciona a lógica do interesse, mas da
18 gratuidade, não a utilidade prática, mas o valor intrínseco da natureza, da ridente paisagem, do carinho
19 entre dois enamorados. Nisso reside a felicidade humana.
20 O insuspeito Daniel Soros, o grande especulador das bolsas mundiais, confessa em seu livro A
21 crise do capitalismo (1999): ”uma sociedade baseada em transações solapa os valores sociais; estes
22 expressam um interesse pelos outros; pressupõem que o indivíduo pertence a uma comunidade, seja uma
23 família, uma tribo, uma nação ou a humanidade, cujos interesses têm preferência em relação aos
24 interesses individuais. Mas uma economia de mercado é tudo menos uma comunidade. Todos devem
25 cuidar dos seus próprios interesses... e maximizar seus lucros, com exclusão de qualquer outra
26 consideração” (p. 120 e 87).
27 Uma sociedade que decide organizar-se sem uma ética mínima, altruísta e respeitosa da
28 natureza, está traçando o caminho de sua própria autodestruição. Então, não causa admiração o fato de
29 termos chegado aonde chegamos, ao aquecimento global e à aterradora devastação da natureza, com
30 ameaças de extinção de vastas porções da biosfera e, no termo, até da espécie humana.
31 Suspeito que, se não quebrarmos o paradigma produtivista/consumista/materialista, poderemos
32 encontrar pela frente a escuridão. Devemos tentar ser, pelo menos um pouco, como a rosa, cantada pelo
33 místico poeta Angelus Silesius (+1677): “a rosa é sem porquê: floresce por florescer, não cuida de si
34 mesma nem pede para ser olhada” (aforismo 289). Essa gratuidade é uma das pilastras do novo
35 paradigma.
IN: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/11/blogs/leonardo_boff/
"Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um pôr-de-sol." (L. 15)
Os dois-pontos que aparecem nessa frase exercem a mesma função que
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A questão apresentada envolve a identificação da função dos sinais de pontuação em diferentes partes do texto. Para resolver a questão, é necessário entender como os sinais de pontuação estruturam e organizam o texto, além de identificarem suas funções específicas.
Alternativa Correta: C
As vírgulas que destacam o termo "o grande especulador das bolsas mundiais" (L.20) exercem a função de aposto, ou seja, elas são usadas para destacar uma explicação ou informação adicional sobre um termo anterior, no caso, 'Daniel Soros'.
Justificativa para as Alternativas Incorretas:
A - Os dois-pontos na frase "Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um pôr-de-sol." não exercem a mesma função que os dois-pontos que introduzem a pergunta "Pai, onde se paga?" Os dois-pontos na frase original são usados para introduzir uma explicação ou ênfase, enquanto na pergunta, eles introduzem uma citação direta.
B - A vírgula que separa "Se quisermos qualificá-la" da restante do período é usada para marcar uma oração subordinada adverbial, não tendo relação com a função dos dois-pontos.
D - As reticências após "Todos devem cuidar de seus próprios interesses..." indicam uma continuidade de ideias ou uma pausa reflexiva, diferindo da função dos dois-pontos que introduzem uma explicação no texto.
E - Os parênteses que isolam "aforismo 289” são usados para acrescentar uma informação acessória ou explicativa, novamente sendo uma função diferente dos dois-pontos da frase em foco.
Compreender a função específica de cada sinal de pontuação é essencial para interpretar corretamente o texto e responder a questões de concursos. A prática de leitura atenta e análise dos sinais de pontuação pode melhorar significativamente a compreensão textual.
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