São abundantes na natureza os exemplos de comportamento altruísta. As células se coordenam para manter sua divisão sob controle, formigas operárias de muitas espécies sacrificam sua fecundidade para servir à rainha e à colônia, leoas de um grupo amamentam os filhotes umas das outras. E os humanos ajudam outros humanos a fazer tudo, desde obter alimentos até encontrar pares e defender território. Mesmo que os auxiliadores não coloquem sua vida em risco, eles podem estar reduzindo seu sucesso reprodutivo em favor de outro indiví- duo. Ao longo de décadas biólogos discutiram a cooperação, esforçando-se para compreendê-la à luz da visão dominante da evolução. Charles Darwin, ao expor sua teoria sobre a evolução pela seleção natural – segundo a qual indivíduos com caracteres desejáveis se reproduzem com mais frequência do que seus pares e assim contribuem mais para a próxima geração – chamou essa competição de “a mais severa luta pela vida”. Alçado a sua lógica extrema, o argumento rapidamente leva à conclusão de que não se deve nunca ajudar a um rival e que um indivíduo pode, de fato, fazer bem ao mentir e enganar para vencer uma disputa. Vencer o jogo da vida – por bem ou por mal – é tudo o que importa. Por que, então, o comportamento altruísta é um fenômeno tão persistente? Nas duas últimas décadas venho usando as ferramentas da teoria dos jogos para estudar esse aparente paradoxo. Meu trabalho indica que, em vez de se opor à competição, a cooperação operou juntamente com ela desde o início para dar forma à evolução da vida na Terra, desde as primeiras células até o homo sapiens. A vida é, portanto, não apenas uma luta pela sobrevivência - é também, pode-se dizer, uma união pela sobrevivência. Em nenhum outro caso a influência evolutiva do altruísmo foi mais sentida do que entre os humanos. Minhas descobertas sugerem por que isso acontece e salientam que, assim como ajudar o outro foi fundamental para nosso sucesso no passado, deverá ser vital também para nosso futuro. Simulações evolucionistas indicam que a cooperação é intrinsecamente instável; períodos de prosperidade cooperativa inevitavelmente dão lugar à deserção destrutiva. Mesmo assim o espírito altruísta parece sempre se reconstituir; nossa bússola moral de alguma forma se reorienta.
(Adaptado de: Martin A. Nowak. Scientific American Brasil. Antropologia 2, junho/julho de 2013. p. 30-33)
Com base na argumentação a respeito da afirmativa de Charles Darwin como “a mais severa luta pela vida” (2º parágrafo), é correto afirmar que o autor do texto

Question

A

aceita plenamente o raciocínio de Darwin, em que o espírito competitivo sempre predominou na sociedade, elemento que permitiu a evolução da espécie humana.

B

desenvolve um raciocínio em que leva ao extremo as consequências dessa afirmativa, apontando, porém, direcionamento moral nos rumos da sociedade.

C

abandona os resultados obtidos pela teoria evolucionista, pelo fato de Darwin ter defendido um comportamento antiético em nome da sobrevivência do grupo.

D

discorda do cientista citado, e afirma que a sobrevivência humana no planeta transcorreu pelas leis da seleção natural, sem interferência de regras morais.

E

apresenta posicionamento divergente do de Darwin, por não aceitar a teoria da evolução das espécies, restringindo-a à sobrevivência dos humanos.

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Qconcursos · Accepted Answer

Alternativa [B] desenvolve um raciocínio em que leva ao extremo as consequências dessa afirmativa, apontando, porém, direcionamento moral nos rumos da sociedade. A alternativa correta é B.

Vamos entender por quê?

O texto apresenta uma discussão sobre o comportamento altruísta na natureza, analisando-o à luz da teoria da evolução de Charles Darwin. Darwin propôs que, na "mais severa luta pela vida", os indivíduos com características vantajosas têm maior probabilidade de sobreviver e reproduzir-se, passando essas características para a próxima geração. Este conceito sugere uma competição intensa pela sobrevivência.

No entanto, o autor do texto, Martin A. Nowak, utiliza a teoria dos jogos para aprofundar essa discussão, levando em consideração o papel da cooperação na evolução. Ele argumenta que, além da competição, a cooperação também desempenhou um papel crucial na evolução da vida na Terra. O texto menciona que, apesar de períodos de prosperidade cooperativa serem seguidos por deserções, o espírito altruísta se reconstitui, indicando um equilíbrio dinâmico entre competição e cooperação.

Portanto, a alternativa B está correta porque:

Alternativa B: O autor desenvolve um raciocínio no qual leva ao extremo as consequências da afirmativa de Darwin sobre a "luta pela vida". No entanto, ele aponta para um direcionamento moral nos rumos da sociedade, sugerindo que a cooperação também foi fundamental para a evolução humana e continuará a ser vital.

Vamos analisar por que as outras alternativas estão incorretas:

Alternativa A: Esta alternativa está incorreta porque o autor não aceita plenamente o raciocínio de Darwin. Ele reconhece a importância da competição, mas também realça o papel crucial da cooperação na evolução, o que contrasta com a ideia de que o espírito competitivo sempre predominou.

Alternativa C: Esta alternativa está incorreta porque o autor não abandona os resultados da teoria evolucionista. Pelo contrário, ele utiliza a teoria dos jogos para complementar e expandir a compreensão da evolução, incorporando a cooperação como um fator importante.

Alternativa D: Esta alternativa está incorreta porque o autor não discorda de Darwin, nem afirma que a sobrevivência humana ocorreu sem interferência de regras morais. Ele destaca que a cooperação (uma forma de regra moral) também influenciou a evolução.

Alternativa E: Esta alternativa está incorreta porque o autor não diverge de Darwin ao ponto de rejeitar a teoria da evolução das espécies. Em vez disso, ele amplia a teoria ao incluir a cooperação como um fator evolutivo importante.

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