A autora relata ter recebido um e-mail de “Giba”. Em relação...
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Ano: 2025
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
CRP - 3ª Região (BA)
Provas:
Instituto Consulplan - 2025 - CRP - 3ª Região (BA) - Analista Organizacional - Agente de Controle Interno
|
Instituto Consulplan - 2025 - CRP - 3ª Região (BA) - Analista Organizacional - Analista Financeiro |
Instituto Consulplan - 2025 - CRP - 3ª Região (BA) - Analista Organizacional - Analista TI |
Instituto Consulplan - 2025 - CRP - 3ª Região (BA) - Analista Organizacional - Arquivo |
Q3194268
Português
Texto associado
Texto para responder à questão.
Era uma vez, duas, três
Não se passa no vestibular chutando as questões. Tem que se puxar, fazer valer o investimento.
Em 2016, recebi um e-mail de um homem que eu não conhecia. Ele morava no Rio, mas estava na Patagônia, fazendo uma
viagem de carro. Durante seu longo retorno para casa, fez um pit-stop em Porto Alegre e me convidou para jantar, mas não
aceitei, mesmo ele tendo se esforçado. No e-mail, fez uma síntese de quem era, o que fazia, o que pensava, quais seus projetos
e a razão de me escrever, além de anexar fotos da viagem, do seu carro, do seu rosto e até mesmo da sua carteira de identidade,
o que me fez rir, demonstrava humor na sua intenção de provar que não era um serial killer.
Agradeci, dei uma trelinha para compensar o tempo que ele havia perdido escrevendo aquela mensagem que mais parecia
um currículo, mas não me aventurei, jantei em casa.
Lembrei desta história quando, semana passada, recebi um e-mail de outro desconhecido. Vou trocar seu nome, mas a mensagem
era a seguinte: Meu nome é Giba, há muito tempo desejo te conhecer pessoalmente ou trocar algumas “palabras” no celular.
Escreveu apenas isso – no cabeçalho, não no corpo do e-mail, que veio vazio. O retrato da penúria, a síntese desses tempos.
Ele preferiu matar o assunto rapidinho. Se apresentar para quê? Revelou apenas o apelido e não se preocupou em explicar se
o uso do estrangeirismo era erro de digitação ou resquício do idioma natal. Eu que lutasse.
É comum as pessoas reclamarem que tudo dá errado para elas, culpando as conspirações cósmicas, que nunca alinham
com seus planos. O Giba ficou sem uma resposta privada, mas inspirou essa crônica de utilidade pública: não se passa no vestibular chutando as questões, não se vai bem numa entrevista de emprego sendo monossilábico. Tem que se puxar. Fazer valer
o investimento.
Quem teve um poema publicado em uma revista, enviou uns 25. O turista que conseguiu uma passagem de avião barata
ficou a madrugada inteira pesquisando promoções. Lembra quando dependíamos de ligações telefônicas para empresas que
só davam ocupado? Quantas horas tentando, tentando, até ser atendido? Que bets, que nada: a melhor aposta é em si mesmo.
Não somos prêmios para ninguém, não estamos em promoção, mas o exemplo do Giba serve de alerta: quem almeja algo,
seja o que for, não pode ser tão preguiçoso. Que se dedique um pouquinho, até para demonstrar que tem alguma noção sobre
as dificuldades da vida. Eu imagino o Giba deitado numa cama às quatro da tarde, abatido, entediado, escrevendo aquelas duas
linhas entre uma soneca e outra. Já o carioca que perambulou pela Patagônia voltou a me escrever mais uma, duas, três vezes,
e acabamos namorando. Não durou para sempre, mas foi divertido. Quando a persistência encontra a confiança, dá match.
(MEDEIROS, Martha. Era uma vez, duas, três. Jornal O Globo. Em: dezembro de 2024.)
A autora relata ter recebido um e-mail de “Giba”. Em relação a esse fato, o que mais a impressionou no e-mail foi: